26.8.09

Correspondência com Gabeira

Essa é uma antiga troca de e-mails minha com o deputado Fernando Gabeira que merecia um post.
Leia começando do final.



Caro Daniel,

O site do deputado é atualizado diariamente. Os subsites - cidade sustentável e legalize - sempre que existe alguma novidade. Continue acompanhando nosso trabalho.
Um abraço,
Maria
Ass. dep. gabeira


Quoting Daniel Mafra :

> Prezado Deputado,
> Muito obrigado pela brevidade e objetividade da resposta.
> Sim, eu conheço o seu site sobre legalização, inclusive divulgo frequentemente seu conteúdo (tanto do E-Legalize quanto do Cidade Sustentável), apesar de que as atualizações têm sido cada vez mais escassas.
> Mas, se é que isso importa, pode saber que existe um cidadão um tanto quanto incomum que vive levantando essa bandeira (hoje em dia eu só defendo a legalização das drogas, desenvolvimento sustentável e a igualdade racial, nada mais) e que se legitima na sua luta, deputado.
> Na verdade te mandei esse e-mail antes do senhor divulgar sua atualização sobre Drogas e Violência. Por um momento eu achei que essa atitude do Governador do Rio de Janeiro seria tratada com descaso. É bom saber que continua na batalha, buscando caminhos para a legalização. Sua luta é muito importante. Pode ter certeza que o senhor tem respaldo popular para isso. Continue firme Deputado!
> Obrigado.
> Daniel Mafra.
>
>
> ----- Mensagem original ----
> De: "gabeira@netbotanic.com.br"
> Para: Daniel Mafra
> Enviadas: Sábado, 3 de Março de 2007 16:25:38
> Assunto: Re: Proposta de Sérgio Cabral
>
>
> Caro Daniel:
> Creio que houve um pequeno mal entendido. Nao me isentei da discussão.
> Apenas afirmei que era preciso apoiar o governador e estimulá-lo a
> reformular a polícia.
> Tenho feito esta discussão sempre e sou o unico a manter um site
> especifico sobre o tema. Veja por favor, www.gabeira.com.br/e-legalize.
> Estou apenas dando continuidade ao meu trabalho. Sempre falei em
> legalização e quando a vejo repetida na boca de um governante, minha
> obrigação é apoiá-lo e apontar as premissas para a legalização. Já não
> se trata mais, no meu caso, de debater a legalização e sim mostrar
> qual o caminho para se chegar a ela. Democraticamente. Outros
> defensores da legalização podem ter outras idéias. Dizer que me
> isentei talvez seja a raiz do nosso pequeno desencontro. Escolhi o
> tema para problematizá-lo no meu artigo semanal.E já marquei uma
> audiência com o governador Cabral para discutir o assunto.
> saudações
> Fernando Gabeira


> Quoting Daniel Mafra :
>
>> Saudações,
>>
>> Gostaria de saber o que levou o senhor deputado Fernando Gabeira,
>> pelo qual tenho grande respeito e admiração, a se isentar de entrar
>> na discussão sobre a legalização de algumas drogas proposta pelo
>> atual governador do estado do Rio de Janeiro.
>>
>> Sempre acompanhei o trabalho do deputado, acesso com frequência sua
>> página na internet, mas devo explanar a minha surpresa ao perceber
>> que, quando vemos no país uma grande repercussão sobre um assunto o
>> qual o deputado sempre tratou com bastante equilíbrio, só pude notar
>> uma manifestação de sua parte dizendo que o momento para se tratar
>> desse tema é "inoportuno".
>>
>> Sinceramente, como cidadão e eleitor, fiquei extremamente
>> decepcionado com a referida manifestação, uma vez que, ao meu ver, o
>> momento é de repercussão e deve ser aproveitado para uma maior
>> aprofundamento de um debate que o conservadorismno brasileiro nunca
>> pertmitiu que acontecesse de maneira honesta e sem esse
>> fascismozinho ordinário (como diria Michel Foucalt), tão comum na
>> nossa realidade.
>>
>> Talvez o momento seja realmente inoportuno para uma efetiva
>> legalização, mas ela só virá a partir de um debate profundo e maduro
>> que permeie toda a sociedade e que demanda um certo tempo. Devemos
>> aproveitar o momento e levar esse assunto para frente, devemos ouvir
>> vários lados. Se as nossas vozes não soarem, mais uma vez soarão as
>> vozes dos conservadores que têm medo da legalização ou que ganham
>> com a proibição.
>>
>> O sistema democrático brasileiro trabalha com a idéia de
>> representação e sempre falei em alto e bom tom que a sua figura é
>> uma das poucas, senão a única, que me faz sentir representado no
>> Congresso Nacional. Não abandone, deputado, aqueles que alimentam
>> suas esperanças por mudanças através de figuras como o senhor.
>>
>> Atenciosamente,
>> Daniel Mafra.

Entrevista com Ethan Nadelmann: "A reforma é inevitável"

Entrevista com Ethan Nadelmann: "A reforma é inevitável"

Colaborou: Marina Lemle

O Comunidade Segura entrevistou Ethan Nadelmann, especialista em política de drogas e diretor-executivo da Drug Policy Alliance, organização crítica do proibicionismo nos EUA. Nadelmann veio ao Brasil para o lançamento da pesquisa do Ministério da Justiça sobre o impacto da lei de drogas na população carcerária brasileira, como um importante representante do novo pensamento em política de drogas no seu país.

"O fato de o consumo de drogas continuar a crescer é prova de que a política proibicionista fracassou", disse Nadelmann. "A população precisa se conscientizar de que a atual política causa mais danos que o uso das drogas em si, e que agora precisamos de controles sobre o uso das drogas", completa.

Segundo o especialista, o clima já é de mudança no seu país: dois governadores - da Califórnia e de Nova York - já falam em abrir o debate e um senador da Virginia apresentou um projeto de lei para reavaliar o impacto da atual política sobre o sistema carcerário do país.

A legalização, a seu ver, é a solução para acabar com o mercado negro de drogas, bloquear o acesso dos traficantes a vastas fortunas, além de desfazer nos dependentes químicos a ilusão de que o usuário de drogas é um rebelde.

Nadelmann acredita, ainda, que, juntamente com o crescente uso de drogas ilícitas, a utilização de substâncias psicoativas da indústria farmacêutica já é um fato consumado. É hora de uma tomada de posição. Apesar de implicar em um processo possivelmente lento e confuso, "uma reforma da política de drogas é inevitável", disse Nadelman.

O senhor é a favor da legalização de todas as drogas ou apenas algumas? Como seria o processo de legalização?

Eu acho que não existe alternativa ao processo gradual. Nos EUA, quando acabamos com a proibição ao álcool, foi bem dramático. A respeito da questão de quais drogas legalizar, eu sou a favor da legalização de algumas, mas não todas as drogas. Tampouco recomendo que todas as drogas sejam tratadas como o álcool e o tabaco. É possível tornar legalmente disponíveis algumas drogas que hoje são ilegais, mas de maneira muito mais restrita. Os dependentes químicos receberiam drogas apenas através de clínicas.

Ou seja, há formas de se reduzir o mercado negro e transferir o mercado da ilegalidade para a legalidade. Mas eu também não recomendo que o crack, a cocaína e as drogas em geral sejam vendidas como o álcool e os cigarros.

A descriminalização do uso de drogas ilícitas não levaria a um aumento do uso de drogas?

Não porque a descriminalização se resume essencialmente a acabar com as penas criminais por simples uso ou posse. Por outro lado, ao torná-las legalmente disponíveis, é possível que exista um risco de aumentar o número de pessoas que usam drogas. Mas é importante entender que a legalização resultaria em mais pessoas usando drogas, mas menos pessoas sofrendo danos por causa delas.

Poderia explicar?

Se, por exemplo, se eu tivesse que escolher entre uma sociedade em que um milhão de pessoas são viciadas em heroína ilegal, comprando suas drogas no mercado negro, sustentando a indústria do crime, sendo contaminadas com HIV ou hepatite C por causa de seringas não-esterilizadas, sujeitas a overdose, e talvez roubando para sustentar seus hábitos. Ou, por outro lado, um mundo em que dois milhões ou até mesmo três milhões de pessoas usem heroína, mas de uma fonte que esteriliza as agulhas, sem o risco de contrair ou difundir o vírus do HIV ou a hepatite C, sem o risco de ter uma overdose - porque os usuários conhecem as drogas que compram, sem pagar o preço dos mercados negros, e sem sustentar criminosos, diria que mais usuários legais de drogas pode ser mais vantajoso para a população que um grupo menor de usuários ilegais.

Como é que a descriminalização afetaria os mais jovens?

Acredito que o jovens já têm um acesso muito fácil a drogas como a maconha. Não imagino que a legalização leve a um aumento no uso de maconha entre os jovens. Pode ser que aumente o uso entre as pessoas mais velhas, mas não entre os jovens.

O uso de drogas caiu em Portugal desde 2001 graças à descriminalização do uso e a investimentos em políticas preventivas. O senhor acredita que essa é uma solução?

Portugal é um ótimo modelo. E é bom, porque, por muitos anos, falamos na maioria das vezes sobre os Países Baixos e a Suíça como modelos. É bom ver que Portugal tem se destacado na liderança na descriminalização da posse para uso pessoal de todas as drogas, sob uma abordagem de saúde pública.

E por que houve essa queda no uso de drogas em Portugal?

Essa queda relatada do uso e abuso de drogas em Portugal me lembra do que aconteceu nos Países Baixos. Os holandeses afirmam que, quando descriminalizaram a maconha, conseguiram tornar a maconha sem graça, chata. Ela perdeu sua atração.

Do mesmo modo, se olharmos para a Suíça, por exemplo, onde muitos dependentes obtêm sua heroína legalmente nas clínicas, vemos que lá o mercado negro de heroína perde seu dinamismo, não é mais a droga dos rebeldes. Se você pode ir a uma clínica para consegui-la, então para que usar drogas nas ruas? É um lado da descriminalização... Da mesma forma que reduz as penas e, às vezes, torna as drogas fáceis de se obter, também reduz o apelo da ilegalidade - reduz a sedução de "fruto proibido" da droga.

Se a legalização oferece melhoras na qualidade da droga, quais seriam as conseqüências?

Para muitos dependentes da heroína, quando finalmente têm a oportunidade de obter a droga legalmente - como na Suíça, nos Países Baixos, na Alemanha, e no Canadá - é a primeira vez que se olham no espelho e se perguntam "por que estou fazendo isso?". É quando muitos deles percebem que o vicio para eles é não tanto a droga, mas o estilo de vida como transgressão - isso se torna uma razão para sair da cama de manhã, dá sentido a vida... Quando eles podem ter sua heroína de graça ou a baixo custo de uma fonte legal, é como se eles perguntassem a si mesmos: "o que é que eu estava pensando? Por que eu estava fazendo isso?".

E o mesmo se aplica a maconha?

Bem, a maconha é um pouco diferente, porque a maconha é...

Menos proibida?

Sim, e grande parte das pessoas não constroem seu estilo de vida ao redor da maconha. Para muitas pessoas, a maconha é mais semelhante ao álcool, é algo que se usa para relaxar, ocasionalmente... E do mesmo modo em que há os dependentes, como há pessoas dependentes do álcool, e embora esse vício possa ser um problema sério, ele não leva à morte, não está associado à violência. Claro que não é bom ser viciado, mas a maconha é uma das drogas menos perigosas do ponto de vista da dependência.

O senhor recomenda a legalização do comércio de drogas? Qual é a lógica de se descriminalizar o uso de drogas, mas não o comércio?

Seria bom ir diretamente da proibição à regulamentação, mas o processo político não permite isso. Inevitavelmente, este vai ser um processo gradual, e cheio de contradições. A evolução da reforma da política de drogas exige primeiro, que descriminalizemos e legalizemos a posse para uso pessoal. O que gera um conflito com a proibição criminal sobre a venda. É uma tensão necessária para se progredir politicamente. Não há alternativa a não ser atravessar a fase absurda em que a posse é descriminalizada, enquanto a venda continua a ser criminalizada.

E como seria o processo de legalização da venda?

Eu defendo a regulamentação das drogas. Precisamos de uma regulamentação sensata e pragmática. Acredito que precisamos taxar e controlar as drogas que são ilegais hoje, a maioria delas. Isso significa limitar sua disponibilidade, exigir licença de quem vende. Deve ser permitido o cultivo de pequenas quantidades de maconha para uso pessoal do mesmo modo que é lícito guardar bebidas alcoólicas em casa. Mas, no caso de venda a terceiros, seria preciso uma licença, supervisão e garantia de qualidade.

E as taxas?

É bem interessante: há algumas semanas, em Oakley, Califórnia, o público aprovou um referendo para introduzir impostos sobre maconha para uso medicinal. E o referendo foi apresentado pelas pessoas que vendem essa maconha. É um exemplo bastante raro de pessoas lutando pelo direito de pagar impostos. Quem luta pelo direito de pagar impostos? No caso deles, é um elemento de legitimização.

O senhor acha que um processo de legalização seria demorado ?

Bem, eu gostaria que tudo fosse baseado na ciência e na discussão racional... Infelizmente, como em qualquer evolução política, vai ser complicado com muito vai-e-vem. Assim como qualquer movimento por liberdade e justiça, à medida que ele cresce, as pessoas divergem, porque isso faz parte da natureza humana.

A discussão atual sobre questões como o tipo de manifestações públicas, "deve haver uma marcha da maconha? Deve haver protesto público?", ou de linguagem "devemos usar a palavra 'legalizar' ou não, apenas descriminalizar?“ Vai sempre gerar debate... Isso vai se encaminhar para o processo político, com toda a negociação do processo legislativo. Então o processo de reforma vai ser lento, vai ser confuso, mas é inevitável.

Inevitável significa daqui a quantos anos?

É impossível dizer. Se voltássemos no tempo até 1800 e perguntássemos quando a escravidão iria ser abolida, alguns responderiam "nunca" e outros, "em cinco anos". E, de fato, levou poucos anos em alguns países, e, em outros, três ou quatro gerações. Então não sabemos. Temos uma certeza: a proliferação de drogas psicoativas, em sua maioria, drogas farmacêuticas, é inevitável.

Então o crescente uso de drogas não se limita às substâncias ilícitas?

O uso e o abuso de drogas vão levar cada vez mais às drogas farmacêuticas. Isso vale tanto para as drogas que são prescritas legalmente pelos médicos quanto para as drogas desviadas ilegalmente por pacientes e farmacêuticos. Mas esse é o futuro. De forma que não vamos ter alternativa a não ser descobrir como conviver com isso, como reduzir os danos. E esse é um problema para o qual as leis criminais são particularmente mal articuladas.

A única alternativa vai ser contar cada vez mais com uma regulamentação sensata, consumidores mais conscientes. E essa abordagem vai levar diretamente a estratégias para drogas como a heroína, a maconha, a cocaína e entre outras.

A legalização ajudaria a reduzir a violência em cidades afetadas pelo tráfico?

A legalização ajudaria de maneira significativa, porque seria possível obter drogas nas clínicas, farmácias e lojas. Ninguém iria a uma favela para comprar suas drogas ilegalmente. O mercado ilegal desapareceria com o tempo.

O senhor recomenda a legalização para o Brasil?

Sim, é essa a direção a seguir. É importante encontrar diversas maneiras de permitir às pessoas que querem - ou são dependentes e por isso precisam – obter suas drogas de fontes legais. Isso não significa que você deve equiparar essas substâncias ao álcool ou tabaco, mas que precisamos ser criativos ao competir com e minar o mercado negro.

E o que fazer com os traficantes?

No início dos anos 30, quando o debate sobre a proibição do álcool estava acontecendo havia essa preocupação com os traficantes de álcool, Al Capone, e os outros. E você sabe o que aconteceu? Muitas pessoas que faziam bebidas alcoólicas ilegalmente, em seus quintais, simplesmente pararam suas atividades com a legalização.

Um segundo grupo estava ligado às oportunidades que surgem com o mercado negro. Estavam envolvidos no crime por causa do lucro fácil. Alguns deles tentaram migrar para outros crimes, mas nada era tão lucrativo e tão fácil quanto o álcool, (e o tráfico de drogas). O resultado foi que muitos perderam o interesse e abandonaram as atividades... Por fim havia aqueles criminosos "comprometidos" e, com a legalização, tentaram se envolver na distribuição legal. Eles extorquiam dinheiro de donos de bar e distribuidores.

Por isso imagino que alguns dos narcotraficantes optariam por esse caminho. Tentariam se envolver no ramo legal, ou, talvez, em outros crimes, que eles já praticam de qualquer jeito. Mas eu acho que não há nada que dê tanto dinheiro ilegal, nada que tenha um mercado negro tão dinâmico. Não há nada tão fácil de acessar como o mercado ilegal de drogas. Então, se não houver mais esse mercado, pois as drogas se tornariam legais, acarretaria em uma perda de bilhões de dólares no Brasil, dezenas de bilhões de dólares nos EUA, e centenas de bilhões de dólares no mundo. Fortunas que deixariam de sustentar o mercado negro.

A legalização nos EUA está ganhando força?

Bem, a legalização da maconha está agora se tornando uma possibilidade real. Como eu mencionei, o governador Schwarzenegger, da Califórnia, disse que precisamos de um debate. O governador Patterson, em Nova York, disse a mesma coisa. Há um senador de Virginia, James Webb, que é bem conservador e introduziu um projeto de lei para criar uma comissão para pesquisar como a guerra às drogas afeta o problema da superpopulação das prisões. Quando lhe perguntaram sobre a legalização, ele respondeu que "todas as opções devem estar sobre a mesa".

Os EUA estão no início de um debate muito mais sério e centralizado sobre a legalização da maconha. Com relação às outras drogas os debates devem enfocar medidas de redução de danos, clínicas para obtenção de heroína, por exemplo.

Se o uso de drogas está aumentando na América Latina, como convencer a sociedade a legalizar ou mesmo a descriminalizar o consumo?

Primeiramente, se o consumo de drogas cresce, é uma prova adicional de que a proibição fracassou. Se funcionasse, o consumo estaria caindo, e ele não está. Em segundo lugar, o público precisa entender que há dois problemas: um é a questão do abuso de drogas, e outro é diz respeito à política de proibição. Quando a mídia começar a associar a proibição e a criminalização como parte do problema, o público vai entender melhor. E é aí que o público vai entender que o uso de drogas varia, mas o mais importante é gerenciar isso do melhor jeito possível para reduzir os problemas das drogas e reduzir os problemas das nossas políticas de drogas.

O público precisa entender como funciona a política de drogas?

Como eu disse, para a maioria das pessoas que usa maconha, a maior ameaça para suas vidas e sua saúde não vem do uso da maconha, mas das leis que regem o uso da maconha. Para muitas pessoas envolvidas com a cocaína - que pode ser uma droga muito mais perigosa -, os danos da ilegalidade são ainda maiores que os danos do uso da droga.

Outra coisa a se pensar é que se a cocaína se tornar legal, o seu uso iria se diversificar... Há o chá de coca que contém cocaína, não é um problema. Coca-cola costumava conter cocaína, e não era um problema. Havia um vinho chamado Vin Mariani na França que continha cocaína. Esse não é o problema. Se fosse legalizada, é possível que ela seja usada de outros modos.

Em alguns lugares, as pessoas beberiam chá de coca, ou mascariam chiclete de coca durante a tarde. E talvez até vá competir com o café expresso. Não é como se todo mundo fosse começar a usar a cocaína aspirada ou injetável. A maioria das pessoas não quer injetar drogas, não quer fumar crack, legal ou ilegalmente, e não quer colocar pó pelos seus narizes. A maior parte das pessoas prefere consumir drogas de modos que sejam menos destrutivos para suas vidas.

Tradução: Pedro Vicente

Fonte: http://www.comunidadesegura.org/pt-br/MATERIA-a-reforma-e-inevitavel

Protesto nas Nações Unidas



19/08/2009
Protesto nas Nações Unidas – CND 2009

Cartazes do protesto em Viena na entrada das Nações Unidas, na manhã da inauguração da reunião da Comissão de Narcóticos,março de 2009.



“Meu nome é Diana. Sou uma enfermeira. Vivo com meu marido e meu filho. Temos dois cachorros. Eu trabalho bastante. Vou começar a cumprir uma pena de quatro meses de prisão por posse de maconha.”



"Meu nome é David. Sou um professor. Vivo com minha namorada num apartamento novo, que compramos financiado. Na semana que vem vou cumprir seis meses de prisão por posse de maconha."


Fonte: Transnational Institute

Agrônomos aumentam produtividade da maconha no Paraguai

Agrônomos aumentam produtividade da maconha no Paraguai
Publicado por Edson Fonseca
24-Ago-2009 12:00

fonte: http://jornale.com.br/content/view/21963/55/


Novas técnicas teriam aumentado a produtividade em até 250%



Assessorados por engenheiros agrônomos a serviço do tráfico, narcoagricultores da região de fronteira seca entre Paraguai e Mato Grosso do Sul estão melhorando a produtividade e a qualidade da maconha colhida, elevando em até 250% os ganhos com a atividade. Foi o que publicou, neste final de semana, o jornal ABC Color, do Paraguai, cujo correspondente em Pedro Juan Caballero, Cándido Figueiredo, conheceu uma das plantações e pôde acompanhar, com detalhes, as explicações sobre o novo método de colheita da erva.



A diferença entre a "maconha tradicional" e a "nova maconha" ocorre, precisamente, no momento da retirada. Ao invés de arrancar as folhas com as mãos, os narcoagricultores cortam parte do caule da planta e deixam-a secando por vários dias, até proceder à colheita definitiva.



Dessa forma, obtém-se o aumento do percentual de Tetrahidrocanabinol (THC), substância responsável pelo teor alucinógeno da droga. O novo método permitiria a colheita de uma maconha de "melhor qualidade" e a obtenção de melhores preços no momento da venda aos "distribuidores".



"Temos engenheiros agrônomos que nos orientam", admitiu "João", capataz brasileiro de uma narcoestância situada nas imediações de Capitán Bado, divisa com Coronel Sapucaia (MS), em entrevista ao ABC Color.



Segundo "João", tais engenheiros são profissionais brasileiros, tais como os financistas da produção. Questionado sobre o temor à descoberta das lavouras e à prisão dos trabalhadores envolvidos, o capataz foi franco e direto em sua resposta.



"Ninguém vai matar a galinha dos ovos de ouro. Nós trabalhamos e todas as autoridades da região se beneficiam, é como uma grande cooperativa", comparou.

23.8.09

Governo quer mudar Lei das Drogas

O debate prossegue...

do Conjur

Por Filipe Coutinho

"A sociedade e o Congresso têm que entender que estamos prendendo os peixes pequenos, agravando a situação deles e deixando soltos os grandes traficantes.” Com esse argumento, o deputado Paulo Teixeira (PT/SP) pretende enfrentar nos próximos meses uma batalha polêmica na Câmara dos Deputados: permitir o plantio de maconha para o usuário e estabelecer penas alternativas para o pequeno traficante. Para isso, Teixeira se vale de um estudo encomendado pelo Ministério da Justiça que mostra, na prática, que a polícia pouco se dedica a prender os grandes traficantes. Segundo o deputado, a nova lei pode mudar essa situação e deixar ainda mais clara a descriminalização do usuário, a ponto de ser permitido fumar maconha no meio da rua.

A opinião de Paulo Teixeira ainda não é a posição oficial do governo Lula. Teixeira foi o único parlamentar a participar da discussão dentro do governo, na tentativa de mudar a Lei 11.343/06. Nessa semana, começou o ciclo de de debates da Comissão Brasileira sobre Drogas e Democracia. O grupo heterogêneo, composto por especialistas e representantes de setores interessados, tem entre seus membros a ministra do Supremo Tribunal Federal Ellen Gracie. Paulo Teixeira é o representante do Congresso.

Os números da pesquisa revelam que a maioria dos presos é constituida por réus primários, que foram presos sozinhos, com pouca quantidade de drogas e não tem associação com o crime organizado. “Nós pegamos todo o aparato policial para prender, todo o aparato judicial para julgar e administramos a prisão de todas as pessoas em penas pesadas. Minha pergunta é: é essa a preocupação que a sociedade tem? Me parece que não. A sociedade está preocupada com o grande traficante e a violência do tráfico”, explica o deputado.

O tráfico de droga representa a segundo maior incidência de condenações nos presídios brasileiros, com 69.049 presos, atrás somente de roubo qualificado. O estudo da secretaria de Assuntos Legislativos do Ministério da Justiça foi feito em parceria com a Universidade de Brasília e Universidade Federal do Rio de Janeiro, entre março de 2008 e julho de 2009. Os pesquisadores analisaram 1.074 acórdãos ou sentenças, nos Tribunais de Justiça do Rio e Brasília, além de Superior Tribunal de Justiça e Supremo Tribunal Federal. No total, o estudo do Ministério da Justiça apurou que 55% dos presos são réus primários

Não compre, plante
O deputado acredita que a atual lei não diferencia o grande traficante do “peixe pequeno” e, por isso, as políticas públicas estão “desfocadas”. A ideia é dividir a lei em quatro tipos de agentes. Ao usuário comum, o deputado defende que a lei não deve enquadrá-lo na esfera penal. A revista Consultor Jurídico perguntou então sobre uma situação hipotética: o que deveria acontecer com quem estiver fumando um cigarro de maconha no meio da rua? O deputado foi incisivo. “Acabou, não tem o que falar. Ele pode”, diz. “A maconha não causa um problema social, do ponto de vista da violência. Não se pode tratar maconha como se fosse crack”, completa.

Como forma de desarticular o lucro com o tráfico, Paulo Teixeira defende também que seja dada a permissão para o usuário plantar “três ou quatros mudas” de maconha, para consumo próprio. Para isso, o deputado prevê políticas de controle e licença médica para evitar abusos. “Se a pessoa é usuária ocasional e não abusa ou tem problemas, ela pode plantar pequenas quantidades. O objetivo é separar o usuário do tráficante”.

A tentativa de permitir o plantio de maconha, com pesquisas e debates dentro do governo, mostra uma mudança de visão em relação à maconha nos últimos anos. Os integrantes da banda Planet Hemp, por exemplo, foram presos na década de 1990 por apologia às drogas. Hoje, a música se encaixa sob medida no discurso do deputado. “Não compre, plante. Chega de financiar essa máquina extorsiva.
De um lado o miserável, de outro o policial homicida”, diz uma das músicas da banda outrora censurada.

No Supremo Tribunal Federal, os ministros terão de decidir se a Marcha da Maconha e outras manifestações a favor da legalização da cannabis sativa é apologia ou liberdade de expressão. Para a Procuradoria Geral da República, autora da ação, defender a legalização da maconha é um direito. “O fato de uma ideia ser considerada errada pelas autoridades de plantão não é fundamento bastante para justificar que a sua veiculação seja proibida. A liberdade de expressão não protege apenas as ideias aceitas pela maioria, mas também aquelas tidas como absurdas e até perigosas. Trata-se de um instituto contramajoritário, da minoria”, diz a o texto da ação.

Peixe pequeno
Pela proposta do deputado, numa segunda categoria está o réu primário, com pequena quantidade de droga, desarmado e sem vínculo com quadrilhas. Esse caso, aliás, é o mais comum nas cadeias – de acordo com o estudo. Para esse grupo, a proposta é estabelecer primeiramente penas alternativas. “A atenção tem que ser dada para a organização criminosa. Quem usa arma, constrange, contrata menores, o foto tem que estar nesse grupo. A estratégia do traficante é não colocar a mão na droga e dar o trabalho sujo para jovens pobres. E a sociedade está aceitando o jogo deles. A polícia coloca os jovens na cadeia e o tráfico os substitui por outros”.

Os números corroboram a tese do petista. No Distrito Federal, por exemplo, o combate ao tráfico de drogas chegou a um anacronismo: a maior causa de aumento de pena (40%) foi justamente por causa de tráfico dentro dos presídios.

Numa terceira categoria, está quem vende e faz pequenos roubos para bancar o vício. Para esse caso, a ideia é dar tratamento médico e punir penalmente somente os reincidentes. “Quem comete o crime por vício, tem que ser primeiramente tratado. É uma doença”, diz o deputado. “A gente tem que tirar essa meninada do craque. Colocar na prisão só vai piorar a situação”.

Por fim, no quarto grupo entram os grandes taficantes, quem realmente comanda o tráfico e controla o mercado de droga. De acrodo com a proposta, a polícia e a legislação deve focar neles, para quem seriam reservadas penas mais duras.

Mestre em Direito Constitucional pela Universidade de São Paulo, Texeira não entra pela primeira vez na polêmica sobre as formas de combate ao uso de drogas. Há 11 anos, quando era deputado estadual, foi autor da lei paulista que garante a distribuição de seringas aos viciados em heroína. Para convencer nichos conversadores do Congresso Nacional, o deputado explica repetidas vezes uma única tese: uma nova lei seria uma constatação da realidade brasileira. “Essa discussão não pode ser ideológica ou contaminada de valores morais. Temos que ser pragmáticos e focar nos resultados. Tem que ser um debate desapaixonado e técnico, só assim para convencer a sociedade”.

“Bagunça total”
Nas varas criminais do DF, quase 70% dos processos referem-se a presos com quantias inferiores a 100 gramas de maconha. No Rio de Janeiro, esse grupo de presos representa 50%. “A grande maioria dos presos atualmente por este delito está no nível inferior da hierarquia, e não tem ligação direta com crime organizado. Esse nível funciona como uma bagunça total, pois normalmente os seus agentes não têm advogado, guardam a mercadoria em casa, brigam com a família durante a prisão, além de ter a pobreza como característica”, afirma o estudo do Ministério da Justiça.

De acordo com o estudo, 88% dos réus nas varas estaduais e federais do DF e RJ foram presos em flagrante. A pesquisa aponta um desvio na atual lei, que dá amplos poderes ao policial. “Uma vez apresentado um preso em flagrante, o magistrado não terá condições de perceber como ocorreu a prisão, pois depende da palavra do policial”, afirma o estudo. “O formato da lei parece contribuir, quando estabelece tipos abertos e penas desproporcionais. O resultado dessa equação é que o Poder Judiciário aplica uma lei extremamente punitiva e desproporcional”.

Na cerimônia de divulgação do estudo, o secretário de Assuntos Legislativos do Ministério da Justiça, Pedro Abramovay, também defendeu mudanças na lei. “O Brasil está em um processo de amadurecimento da legislação sobre drogas. A lei de 2006 representou um avanço, mas temos que continuar debatendo e ver todas as falhas. O resultado da pesquisa mostra que há questões a serem aperfeiçoadas. Novos caminhos surgirão com muito debate”.

O governo aguarda ainda o parecer do Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas (Conad) para decidir como será a redação final do projeto de lei. A expectativa é que o projeto comece a tramitar em setembro ou outubro. A repercussão de setores mais conversadores da Câmara dos Deputados ainda foi tímida. Um detalhe mostra que o projeto deve ter tramitação rápida. Se o governo Lula de fato quiser mudar a lei, terá pouco mais de um ano para aprová-lo. Afinal, 2010 é ano de eleição e tudo é incerto em relação à próxima legislatura e presidência da República.

Confira os principais pontos da proposta:

Como devem ser tratados os agentes da maconha:
►Usuário: retirar da esfera penal
►Pequeno traficante (réu primário, desarmado e sem relação com organizações): penas alternativas
►Viciado (quem comete pequenos roubos e vende droga para bancar o vício): tratamento médico
►Organização criminosa: punições duras

Providências:
►Diferenciar maconha das outras drogas
►Deixar mais claro as características do porte para uso próprio e para venda

22.8.09

IPVA IPTU

No Df, em 2009, a arrecadação der IPVA foi, pela primeira vez na história, maior que a de IPTU.
Daqui a pouco a gente abandona as casas e cede aos carros, para eles ficarem na sombra e não desgastar a pintura!

México descriminaliza posse de pequenas quantidades de droga

fonte: http://www.estadao.com.br/noticias/internacional,mexico-descriminaliza-posse-de-pequenas-quantidades-de-droga,422581,0.htm

CIDADE DO MÉXICO - O México descriminalizou nesta quinta-feira, 20, a posse de pequenas quantidades de maconha, cocaína e heroína, em um movimento do governo para focar a batalha contra os traficantes de droga. Promotores dizem que a nova lei estabelece limites claros, tornando mais difícil para policiais corruptos extorquirem usuários casuais. Também oferece tratamento grátis aos dependentes, para manter o uso doméstico de drogas sob controle.



A nova lei define a quantidade máxima de drogas para "uso pessoal", incluindo também o LSD e metanfetaminas. Pessoas presas com essas quantidades não enfrentarão mais um processo criminal. "Isto não é legalizar, mas regular o problema e dar aos cidadão maiores certezas legais", disse Bernardo Espino del Castillo, da advocacia geral.



Castillo disse que, na prática, usuários de poucas quantidades não chegavam a enfrentar acusações. Sob a antiga lei, a posse de qualquer quantidade de droga era punível com prisão, mas havia brechas legais para dependentes químicos pegos com pequenas doses.



Contudo, policiais por vezes extorquiam os suspeitos, fazendo ameaças de longas penas de prisão caso a pessoa não pagasse propina. "O ruim é que isso ficava sob o critério do delegado, o que poderia abrir a porta para corrupção ou extorsão", disse Castillo.



A quantidade máxima de maconha para uso pessoal na nova lei é de 5 gramas - o equivalente a aproximadamente quatro cigarros. O limite é de meia grama para a cocaína, o que equivale a cerca de quatro doses. Para as outras drogas, o limite é de 50 miligramas de heroína, 40 miligramas de metanfetaminas e 0,015 miligramas de LSD.



O governo enfatizou que é necessário diferenciar os dependentes químicos e usuários casuais dos traficantes, cujas batalhas violentas contribuíram para a morte de mais de 11 mil pessoas desde que o presidente Felipe Calderon tomou posse, em 2006.

18.8.09

correspondências virtuais com políticos II

Essa foi a troca de e-mails com o dep. Paulo Teixeira sobre o post aí abaixo...

2

Caro Daniel

Obrigado pela sua mensagem.
Vou postá-la no meu blog.
abraços
Paulo


----- Mensagem encaminhada ----
De: Daniel Mafra
Para: dep.pauloteixeira@camara.gov.br
Enviadas: Segunda-feira, 17 de Agosto de 2009 9:33:20
Assunto: Regulamentação da Maconha

Prezado Deputado Paulo Teixeira,

É de iniciativas como a sua que o Brasil encontra-se carente.
Precisamos de mais honestidade no trato com os temas mais graves de nossa sociedade, e a questão das drogas é um desses temas. Nunca houve na história da humanidade uma sociedade livre de drogas (até onde se sabe apenas os esquimós não faziam uso de alteradores de consciência - possivelmente pela completa ausência deles em seu território).
A sociedade moderna está repleta de drogas ilegais, e a proibição não impede ninguém, absolutamente ninguém de usá-las!
Regulamentar o uso e o auto-cultivo da maconha é um passo fundamental na construção de uma sociedade mais justa.
Apenas um passo, pois a fonte de dinheiro ilegal dos traficantes deve ser eliminada e isso só acontecerá com a legalização total de todas as drogas.
Ao contrário do que a mídia e alguns políticos hipócritas dizem, a sociedade brasileira não está preparada para a proibição, pois isso exige um senso de responsabilidade civil e respeito os quais o Brasil não conta e nem contará!
A própria sociedade não deseja um mundo sem drogas, e o Brasil deve andar na mão dos países democráticos e com justiça social, como os países da Europa. O mundo caminha para isso!
É bom saber que existem pessoas de bom senso no Congresso Nacional.
Essa luta não é só sua, mas de toda a sociedade.

Cordialmente,
Daniel Mafra

correspondências virtuais com políticos

Seguem colados alguns e-mails que eu troquei com o senador Magno Malta. A leitura deve ser feita de baixo para cima (ou quase isso!)



Estimado Senador,

Obrigado pela sua resposta. É bom saber que o senhor está aberto ao diálogo com a população que representa.

Pois bem, no meu entendimento, o senhor tem o direito de ter qualquer opinião, seja ela religiosa ou de qualquer outra natureza. Mas sua opinião pessoal não pode interferir no seu trabalho parlamentar, que não é só para o senhor, mas para milhões de pessoas diferentes.

Porém o senhor tocou nos pontos fundamentais da quesão das drogas no Brasil.

1. O senhor afirma que já foi usuário. Pode-se inferir aí duas premissas básicas: A primeira é que a proibição não impediu que o senhor tivesse acesso as drogas (ou seja, a proibição não funcionou para o senhor e nem funciona para ninguém) e a segunda é que as drogas não te deixaram debilóide, como muitos costumam argumentar, o que pode-se comprovar pelo seu cargo atual.

2. "Os holandeses não são os principais consumidores das drogas". Isso comprova que o fato de que com algumas drogas legalizadas não existe fila para se usar. Não há uma correria desenfreada pelos narcóticos só porque são legalizados. Só há muitos consumidores estrangeiros porque o que o que eles procuram na Holanda é exatamente o que queriam em seus países: qualidade e segurança. Chega a ser cômico ouvir alguém falar que um país com a qualidade de vida dos países baixos está errado porque as drogas ou a eutanásia são legalizados.

Até a polícia holandesa transmite uma certa tranquilidade quando você vê um policial sorridente pedalando por bairros como o Red Light district. Ele sabe que a lei que cumpre faz sentido e não está embasada em moralismos religiosos.

Normalmente o que guia a opinião dos que são contra a regulamentação de drogas, prostituição, eutanásia, aborto, entre outros, são fundamentalismos religiosos. O mesmo princípio que permite, em alguns países da África e do médio oriente, que as mulheres sejam mutiladas cortando seu clitoris.

Fundamentalismo esse que faz com que alguns se suicidem achando que vão mudar alguma coisa no mundo matando inocentes em transportes aéreos ou terrestres com bombas presas ao corpo em atentados.

O fundamentalismo religioso acaba fazendo isso mesmo Senador: perde-se um pouco do senso do que é certo e errado.

Mas faça assim, continue lutando pela proibição das drogas (essa mesma, que não funciona para ninguém!!!), e vamos manter as velhinhas peladas e humilhadas na porta das cadeias ao visitar seu filho pé rapado que tinha meio quilo de maconha pra vender.

Atenciosamente,

Professor Daniel Mafra.

ps:

Obrigado pelo convite, mas vai ficar para outra oportunidade.



De: Sen. Magno Pereira Malta
Para: dfmafra@yahoo.com.br
Enviadas: Segunda-feira, 25 de Maio de 2009 19:38:06
Assunto: Resposta ao email

Prezado Daniel,
cumprimentando-o cordialmente e em resposta ao seu e-mail venho, em primeiro lugar, esclarecer que sou um Senador eleito como representante do Estado do Espírito Santo, portanto, um Senador brasileiro. Não tenho o poder de legislar em outros países como a Holanda, que V.Sa. cita. A minha alçada é restrita às fronteiras brasileiras. A minha posição contra a maconha e/ou contra qualquer droga alucinógena é rígida e frontalmente contrária a liberalização. Posso falar porque, assim como você, um dia fui usuário e consegui abandonar o vício através da presença constante de Nosso Senhor Jesus em minha vida. Mantenho em funcionamento uma clinica de recuperação em Cachoeiro de Itapemirim que tem dados bons resultados para aqueles que querem se tratar. Convido-o a conhecê-la caso tenha, ao menos, curiosidade em saber como as pessoas podem se livrar das substancias alucinógenas ou visitar o www.projetovemviver.com.br . Todos sabemos bem que na Holanda o uso de drogas, a eutanásia e o casamento entre homossexuais são legais. A maconha e o chá de cogumelos, os magic mushrooms, são vendidos livremente e têm efeito alucinógeno. Pode ser que V.Sa. não saiba que os holandeses não são os principais consumidores e reclamam da fama de maconheiros que lhes é atribuída por conta dos estrangeiros que visitam ou moram na cidade que se tornam um grande problema com seus abusos. Muita gente vai em Amsterdã para “ficar doidão” e acaba passando bem mal. A decisão de legalizar as “drogas leves” foi uma tentativa de diminuir o consumo de “drogas pesadas”, em especial a heroína. O consumo de maconha aumentou bastante, o de heroína caiu muito pouco. Alem do mais com situações culturalmente tão diferentes não se pode pensar em simplesmente copiar uma solução entre países tão diversos. Em Volendam, vale a pena V.Sa. verificar, existe uma associação chamada “Mães Corajosas” que tentam tirar seus filhos do consumo e impedir que os mais novos comecem. Porque mesmo num país onde é legalizado, a maioria dos pais não quer saber de seus filhos consumindo drogas não é mesmo? Ainda que eles mesmos tenham, um dia, feito uso. É inacreditável como se acaba perdendo um pouco do senso do que é certo e errado. Assim são os homens, usuários de drogas, capazes de realmente enlouquecer na busca de uma maneira fantástica de sustentar o próprio vicio.

Que Nosso Senhor Jesus guie seus passos.
Atenciosamente,
Senador Magno Malta

Prezado Senador,
Seu posicionamento sobre a legalizacao da maconha e sobre a atitude do ministro Carlos Minc envergonham o Brasil.
Estou te enviando esse email de Amsterdam, capital da Holanda, uma das maiores qualidades de vida do mundo, para te dizer que aqui nao fica nenhuma velhinha pelada na cadeia porque ninguem vai preso por causa da maconha. Ela nao mata. Alias, vossa senhoria deveria passar uns dias aqui para ver o que e uma cidade boa... muito melhor que Curitiba.
O Brasil so esta na situacao de atraso em que se encontra por causa de pessoas de mentalidade como a sua.

Atenciosamente,
Daniel Mafra.

ps: faltam os acentos por causa do teclado europeu.


Revisão da lei de drogas pode liberar plantio de maconha

Jornal da Tarde, 16 de agosto de 2008

Proposta polêmica é estudada pelo deputado federal Paulo Teixeira, do PT, no projeto de revisão da Lei Antidrogas, que vai ao Congresso. Uso e porte de pequenas quantidades do entorpecente podem deixar de ser crime

DANIEL GONZALES

O governo federal planeja fazer mudanças na Lei Nacional Antidrogas, de 2006, por meio de um projeto de lei que será apresentado à Câmara dos Deputados até o fim deste ano. Uma das novidades que poderão fazer parte do projeto, segundo o deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP), um dos interlocutores do governo sobre o assunto, é a autorização legal para o plantio de pequenas quantidades de maconha, droga considerada leve, para consumo próprio – o que hoje é crime, punido com prestação de serviços à comunidade e multa.

Segundo o deputado, que vai apresentar o projeto no Congresso Nacional (provavelmente em outubro), a principal meta será descriminar o uso e a posse de quantidades irrisórias de entorpecentes, afastando esse tipo de usuário da esfera penal. Hoje, as condutas também são consideradas crimes de tráfico e, conforme ele, faltam à lei critérios claros para separar os traficantes dos usuários eventuais.

“Queremos abrandar as penas ao pequeno usuário, retirando-o da órbita penal”, explica Teixeira. “Não se trata de legalizar drogas, mas de regulamentar o assunto e não deixar o consumidor se ligar à criminalidade. Passaremos a vê-lo como necessitado de tratamento”, acrescenta.

Há parlamentares que discordam dessa proposta. É o caso do senador paulista Romeu Tuma, do PTB (veja ao lado). A liberação do autoplantio de maconha também encontra certa resistência em setores da Secretaria Nacional Antidrogas (Senad) e Conselho Nacional Antidrogas (Conad), vinculado ao Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República – instâncias que também discutem a revisão da lei. O Ministério da Justiça estuda penas mais rígidas para quem for preso por comprar drogas de crianças.

“Se a pessoa plantar para consumo próprio, automaticamente se quebra o vínculo dela com o crime, o grande traficante”, analisa Teixeira. “Hoje, a lei brasileira em vigor há três anos não prevê prisão para quem cultiva a maconha. A conduta, porém, é crime e enseja multa e punição como prestação de serviços comunitários.”

A proposta, diz o deputado, é inspirar a futura legislação brasileira nos modelos português e holandês. O primeiro país descriminou o uso de drogas em 2001 e passou a punir essas pessoas com sanções administrativas, como encaminhá-las a grupos de “convencimento” para que o uso seja abandonado ou para tratamento médico, no caso de vício. As estatísticas do governo português mostram que o consumo caiu 10%. Já a Holanda permite a venda controlada de maconha, assim como o consumo.

“Deixar de incriminar o consumidor já seria um grande avanço. É bem mais inteligente buscar a abordagem no campo da saúde pública do que usar a lei penal. E também permitiria direcionar as energias para o combate ao grande tráfico”, entende Cristiano Maronna, pesquisador do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais e do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre Psicoativos (Neip).

Perfil dos condenados

Encomendada pelo Ministério da Justiça, uma pesquisa conduzida pelas professoras Luciana Boiteux, especialista em direito penal da Universidade Federal do Rio (UFRJ), e Ela Wiecko, da Universidade de Brasília (UnB), foi apresentada no início deste mês. O levantamento mostrou que a maioria dos presos por tráfico (70%) é composta de réus primários, com base em 730 sentenças de condenação proferidas por juízes do Rio de Janeiro e Distrito Federal. Metade foi condenada por posse de maconha e 84% não tinha arma de fogo. Setenta mil pessoas estão nas cadeias brasileiras, hoje, por crime de tráfico de drogas.

“O objetivo foi medir a aplicação prática da lei. E a pesquisa mostrou que ela chega principalmente aos pequenos”, diz Luciana, que participa do grupo de discussão da Secretaria Nacional de Drogas (Senad). A pesquisadora defende uma lei com clareza maior para separar, em categorias, usuários, pequenos e grandes traficantes, também com punições diferenciadas.

Esse debate é urgente e necessário.


fonte: http://www.pauloteixeira13.com.br/wordpress/?p=294