1.8.10

Maconha, porta de saída?

por Marcos Rolim*

do Zero Hora


A epidemia de crack é um dos fenômenos mais sérios na interface entre saúde pública e segurança. O que a faz particularmente grave é a reconhecida dificuldade de superar a dependência química. Pois bem, a Universidade Federal de São Paulo realizou pesquisa com 50 dependentes químicos de crack que foram submetidos a um tratamento experimental de redução de danos. Sob a coordenação do psiquiatra Dartiu Xavier, o grupo foi tratado com maconha. Daquele total, 68% trocou o crack pela maconha. Ao final de três anos, todos os que fizeram a troca não usavam mais qualquer droga (nem o crack, nem a maconha). Anotem aí: todos.

Imaginei que, com a divulgação destes resultados por Gilberto Dimenstein, na Folha de S. Paulo em 24 de maio, haveria grande interesse sobre o estudo. Nada. A resposta ao mais impressionante resultado de superação da dependência de crack no Brasil foi o silêncio. O uso medicinal da maconha tem sido admitido em dezenas de países, inclusive nos EUA. Por aqui, o tema segue interditado pela irracionalidade. É evidente que o consumo de maconha pode produzir efeitos danosos. Sabe-se que o abuso pode conduzir o usuário a problemas de concentração e memória e que em determinadas pessoas o uso está correlacionado à precipitação de surtos esquizofrênicos. Daí a criminalizar seu consumo e impedir experiências destinadas ao uso medicinal vai uma distância que tende a ser percorrida pela intolerância e pelo obscurantismo.

O psicofarmacologista Eduardo Carlini sustenta que o princípio ativo da maconha pode ser útil no combate à depressão e ao estresse. O mesmo tem sido dito por cientistas quanto ao tratamento do glaucoma, da rigidez muscular causado pela esclerose múltipla, ou como apoio aos pacientes com Aids, aos que sofrem do mal de Parkinson e aos que se submetem à quimioterapia em casos de câncer. Estudo da USP com pacientes que ingeriram cápsulas de canabidiol, um dos compostos encontrados na erva, demonstrou resultados positivos no tratamento da fobia social e na redução da ansiedade.

As oportunidades abertas por estudos do tipo, entretanto, assim como a necessária pesquisa, estão impugnadas no Brasil por um discurso preconceituoso e por uma legislação ineficiente e estúpida. Seguimos repetindo que a maconha é “a porta de entrada” para o consumo de drogas mais pesadas, o que pode traduzir tão-somente uma “falácia ecológica” (quando se deduz erroneamente a partir de características agregadas de um grupo), vez que o universo de consumidores de maconha é muitas vezes superior ao grupo dos dependentes de drogas pesadas que se iniciaram pela cannabis. Em outras palavras: é possível que a maconha seja mais amplamente uma opção alternativa às drogas pesadas e não uma droga de passagem. Independentemente disto, é possível que a maconha seja uma porta de saída para a dependência química por drogas pesadas. O que, se confirmado, será uma ótima notícia.

marcos@rolim.com.br
*Jornalista

29.7.10

processo de encaretamento

um relato...

É impressionante o processo de "encaretamento" pelo qual a sociedade passa!!!
Em conversas, no dia a dia, com conhecidos, amigos e mesmo "bicando" o papo de outras pessoas no metrô, no ônibus e na rua, eu percebo o quão "politicamente corretos" estão os indivíduos da nossa sociedade!
Repare que eu coloco politicamente corretos entre aspas para lembrar que esse termo se torna ridículo, para não dizer nefasto, quando flagramos as mesmas pessoas que se dizem ser contra as drogas, contra a corrupção, contra o abuso de menores, etc, praticando atos como: encher a cara de álcool e sair dirigindo, querer dar um de espertinho no trânsito ou no trabalho, comprar produtos em feiras de rolo, muitas vezes sabendo que são frutos de roubo ou de trabalho infantil, etc.
Hoje, especialmente, em uma conversa fiada no trabalho, quando falamos em pessoas que levam suas crianças para acampar, todos foram unânimes ao afirmarem que é uma absurdo expor um filho ao frio, a sujeira e aos "perigos" de um camping, como por exemplo, picadas de bichos venenosos e a possibilidade de uma cobra ou um jacaré morder a criança (kkkkk)! Isso tudo, sem contar com a presença da pior espécie da natureza... o "bicho-grilo"!!! Esse "animal" que se veste como mendigo, tem o cabelo emaranhado e é cheio de piolhos e, além de tudo, fuma a "erva do diabo", o que pode trazer grandes males aos pequenos pulmões da criança! (?)
Ao mesmo tempo, essas mesmas pessoas, que acham um horror submeter uma criança ao "terror da natureza em um maldito camping", são as mesmas que acham lindo levar seus filhotes para passear no shopping e enfiar seu consumismo doentio goela abaixo da criança... isso sem falar no refrigerante, no sanduíche da mcdonalds, nas batatas fritas, na sobremesa de gordura hidrogenada, no trânsito louco, na fumaça dos escapamentos dos carros... Ah, mas isso é normal e aceitável... Errado mesmo é deixar uma criança sujar seus pés em uma grama molhada ou deixá-la sentar na terra perto de animais assassinos como formigas e grilos respirando a fumaça de planta queimada!
Ao final da conversa e após ouvir todas essas barbáries, só me restou abaixar a cabeça e, com um sentimento profundo de derrota, chegar a esta conclusão: o mundo está de enlouquecendo (no mal sentido) e pior... tenho que conviver pacificamente com isso!

21.7.10

O inteligente se faz de burro nas horas certas. E o burro nunca sabe a hora de fazer nada.

As prisões recentes de growers que cultivam maconha em casa para não comprar no mercado ilegal são um esboço da forma como as liberdades individuais, tão prezadas na constituição em suas cláusulas pétreas, são administradas no Brasil.
Ora, se o que é feito dentro de casa não incomoda ninguém, porque não é permitido?
Se não faz barulho, não tem porque reclamar do que é feito no âmbito doméstico.
Ah, o cheiro incomoda. Mas e daí. Eu odeio cheiro de cominho e meu vizinho adora esse tempero. Todo dia entra na minha casa um cheiro de cominho. Imagina o ridículo de eu interfonar na casa dele pra reclamar do cheiro de cominho.
Nessas horas me pergunto o que leva um ignorante a se sentir no direito de bater na minha porta pra se dizer incomodado com o cheiro da maconha que eu fumo?
- Você está incomodando com esse fedor!
- Você também!

Não, não é esse o tipo de relação que quero ter com meus vizinhos, mas também não quero deixar de fazer o que eu gosto por que o cheiro do recheio do meu cigarro o incomoda. Ele que feche a janela.

17.5.10

Maconha medicinal: entrevista com Dr. Elisaldo Carlini



Maior especialista brasileiro em psicotrópicos, Elisaldo Carlini preside amanhã um simpósio sobre uso medicinal da maconha; aqui, ele diz estar na hora de o país reconhecer os benefícios terapêuticos da cânabis

Filipe Redondo/Folha Imagem

Carlini, psicofarmacologista e presidente do
Centro Brasileiro de Informações Sobre Drogas

FERNANDA BASSETTE
DA REPORTAGEM LOCAL

Amanhã, especialistas se reúnem em São Paulo, em um simpósio internacional que vai debater argumentos científicos envolvendo o uso terapêutico da maconha e a criação de uma agência brasileira reguladora da cânabis medicinal. Elisaldo Carlini, professor da Unifesp, psicofarmacologista e presidente do simpósio, falou à Folha sobre o preconceito e o conservadorismo que, segundo ele, atrapalham a pesquisa do tema no país.



FOLHA – O que há de comprovado no uso terapêutico da maconha?
ELISALDO CARLINI - O primeiro benefício é a diminuição da náusea e do vômito induzidos pela quimioterapia. Já há ao menos 30 trabalhos científicos comprovando esse uso. O segundo é para caquexia (grau extremo de emagrecimento). A administração da maconha nesses casos restaura, em parte, a perda de apetite. O terceiro uso aprovado é para combater dores resultantes de problemas nos nervos, o que causa espasmos musculares. São dores comuns em pacientes que sofrem de esclerose múltipla.

FOLHA – Há quantos anos esses benefícios são conhecidos?
CARLINI - Há muito tempo. No século 19, a maconha era considerada excelente para as dores de origem nervosa.

FOLHA – Existem medicamentos feitos à base de maconha?
CARLINI - Até o momento, existem quatro licenciados e amplamente prescritos. Um deles, feito no Canadá com uma substância sintética, está em uso há 20 anos. Um outro, usando um dos princípios ativos, foi sintetizado nos EUA, é prescrito em cápsulas e exportado. O terceiro é um subproduto da própria maconha, sintetizado na Inglaterra e vendido em forma de spray bucal. O quarto, feito na Holanda, é enviado pelo governo para as farmácias manipularem em forma de cigarro.

FOLHA – E por que o Brasil nunca usou esses medicamentos?
CARLINI - Porque a maconha ainda é condenada pela ONU. Na década de 40, ela foi proibida em quase todo o mundo. A partir de 1961, uma convenção da ONU a classificou como uma droga especialmente perigosa e, então, foi proibida no mundo.

FOLHA – É para estudar esse uso terapêutico que vocês vão discutir a criação da agência reguladora?
CARLINI - Sim. Um grupo de cientistas, do qual eu faço parte, acredita que está na hora de o Brasil reconhecer os benefícios desses medicamentos. Mas, para você poder desenvolvê-los, a ONU recomenda que seja criada uma agência regulamentadora. Estamos tentando criar essa agência para fazer estudos com menos preconceito.

FOLHA – Como a pesquisa é feita hoje, no Brasil?
CARLINI - Há uma dificuldade imensa em importar o princípio ativo. É preciso apresentar um projeto, que tem que ser aprovado em várias instâncias do governo. A partir daí, o Brasil envia um pedido de amostras ao governo americano, que decidirá se manda ou não. Quando mandam, a burocracia é medonha. Os produtos chegam ao porto do Rio e é uma desgraça fazer o desembaraço com a Vigilância Sanitária.

FOLHA – A maconha medicinal causa dependência?
CARLINI - Se o paciente abusar, pode ficar dependente sim e ter vários efeitos colaterais. Mas não produz uma dependência no mesmo grau que a morfina ou a heroína. Podem dizer o que quiser, mas não há provas científicas sobre isso. O uso medicinal inclui a administração de doses adequadas, por um período determinado.

FOLHA – Quantos países hoje usam a maconha como medicamento?
CARLINI - Além dos quatro fabricantes dos medicamentos, mais de 20 importam.

FOLHA – O Brasil tem sinalizado interesse com relação a isso?
CARLINI - Recebo pedidos de pessoas de diversas cidades querendo saber se existe um caminho legal para conseguir a maconha terapêutica. São pessoas com problemas de saúde e que descobriram que a erva pode ser útil em seus tratamentos. Elas acabam comprando a droga no submundo e se sentem muito mal. Também há duas ou três ONGs no Brasil lutando para isso. Em um simpósio, há alguns anos, uma senhora da plateia levantou e falou “eu tenho esclerose múltipla e gostaria de fazer um apelo às autoridades: eu não aguento mais ter que comprar maconha de traficantes”. Ela não é a única. Há uma série de pacientes que usam a maconha comprada ilegalmente para tratar a saúde.

FOLHA – E o governo brasileiro? Tem mostrado interesse em regulamentar a maconha medicinal?
CARLINI - Não que eu saiba. Na realidade, ainda há muito conservadorismo. Falar desse assunto é cutucar um vespeiro. Tem gente que ainda acha que a maconha é a erva do diabo, coisa de satã. Querem condenar a maconha a todo custo. Então certamente vamos ter problemas. Vão alegar que o simpósio seria o primeiro passo para o “liberou total” da erva como droga recreativa. E o nosso objetivo é puramente médico.

FOLHA – Então o Brasil está longe de aprovar o uso como remédio.
CARLINI - Sim. Nesse momento estamos a muitos passos de aprovar. Existem alguns movimentos acanhados. A maconha continua classificada pela ONU como droga de alto risco. E o Brasil segue essa convenção, quase como se fosse uma Bíblia. Não aceitam que há coisas que evoluem com o tempo.

FOLHA – Quantos pacientes seriam beneficiados, caso a maconha medicinal fosse aprovada aqui?
CARLINI - Imagino que sejam dezenas de milhares.

14.5.10

ontem foi 13 de Maio



Mestre Moraes me dê licença...

A história nos engana
dizendo pelo contrário
até diz que a abolição
aconteceu no mês de maio

12.5.10

Pelo fim da Guerra às Drogas

Esse eu não podia deixar passar. Ótima leitura, retirado do Arma Branca.


Por Vitor Abdala

Queria aproveitar hoje, que estou em casa me recuperando de uma sinusite, para fazer algumas reflexões sobre o tráfico de drogas e responder algumas perguntas geralmente feitas a mim, em conversas familiares e em mesas de bares, quando defendo a legalização das drogas.

- Há quantos anos as drogas são proibidas?
R: Pelos meus cálculos, há 96 anos nos EUA e há 89 anos no Brasil.

- A violência diminuiu neste período?
R: Você sabe que não.

- Foi a droga que matou todas essas pessoas no decorrer desta “guerra”?
R: Não, com exceção de algumas overdoses.

- Por que as drogas são proibidas?
R: A proibição às drogas começa nos Estados Unidos, então um país em ascensão no cenário internacional. Foi na década de 1910 que surgiram as primeiras proibições de substâncias entorpecentes, como uma política discriminatória contra populações imigrantes e minorias étnicas no Tio Sam (qualquer semelhança com as atuais políticas de discriminação contra a população muçulmana não é mera coincidência). O uso de ópio pelos chineses contratados para construir ferrovias no oeste dos EUA, o de maconha pelos mexicanos e o de cocaína pelos negros eram uma ameaça à sociedade cristã norte-americana (pressuposto no mínimo curioso, uma vez que o uso de drogas nunca foi restrito às minorias e nem aos imigrantes). As drogas, segundo os inteligentes defensores da proibição, criavam o ócio e a tendência à violência por essas populações, o que ameaçava a branca e protestante sociedade anglo-saxã nos Estados Unidos. Não por acaso, substâncias como a cocaína que eram amplamente utilizadas tanto nos EUA como na Europa, começaram a ser demonizadas. E logo, a comunidade internacional estranhamente começou a dizer que essas drogas eram ruins e que seu uso precisava ser banido do mundo.

- A sociedade brasileira teve a chance de decidir se queria legalizar as drogas ou não?
R: Não, nunca tivemos essa chance.

- O tráfico de drogas é um crime violento?
R: Não. A cocaína não mata ninguém além do cara que ingerir uma quantidade superior àquela que seu organismo pode suportar. Como eu não cheiro, não corro risco de morrer por causa da cocaína.

- Você quer dizer então que os traficantes não são violentos?
R: Não, nunca disse isso. Disse apenas que a venda de drogas não é, por si, um crime violento. É como comprar e vender pão, por exemplo. O problema são os crimes conexos com essa atividade ilegal, ou seja, homicídios, agressões, roubos, torturas, porte ilegal de arma, corrupção, extorsão etc.

- Mas, se você diz que o tráfico de drogas não é violento, por que há tanta violência envolvida?
R: Porque em negócios ilegais, não há justiça ou tribunais arbitrais para decidir controvérsias. Por exemplo, se você tiver uma carga de cocaína roubada, você não vai poder registrar a ocorrência na DP do seu bairro. Você precisa resolver de forma violenta, para mostrar quem é que manda e, assim, evitar que sua carga não seja roubada novamente. Então o “traficante” mata o cara que o ludibriou para mostrar que não se pode roubar sua droga e ficar impune. Outro exemplo: Se alguém tentar invadir meu território, não posso reclamar com ninguém, preciso meter bala para não perder o que é meu. Logo, negócios ilegais se resolvem de formas ilegais.

- Então, se a venda de drogas for legalizada, a tendência é que a violência diminua?
R: Eu, pessoalmente, acredito que sim. Controvérsias poderão ser resolvidas em tribunais e não precisarão mais das armas.

- Por que você acredita que a legalização vai diminuir a violência relacionada ao tráfico de drogas?
R: Porque isso é o lógico. Mas, de qualquer forma, há pelo menos um exemplo histórico que serve de paradigma para se fazer uma análise como essa. Trata-se da Lei Seca dos anos 20 e 30 dos Estados Unidos, período durante o qual a venda de bebidas alcoólicas foi proibida completamente, assim como a cocaína e a maconha hoje. Apesar do curto periodo em que houve a proibição, ele foi suficiente para estimular o surgimento de máfias de contrabando de bebida alcoólica, o aumento meteórico dos homicídios, a falta de controle sobre a qualidade do álcool consumido, a corrupcão e a matança de policiais. Problemas resolvidos depois que o álcool voltou a ser legal nos EUA.

- Traficantes são pessoas más e cruéis, que visam desestabilizar o Estado constituído, para poder implantar seu Estado Paralelo, instalar o caos sobre a cidade e reinar sobre um cenário apocalíptico como servos de Satã?
R: Se formos acreditar em tudo o que a policia, as autoridades e a imprensa publicam, sim. Se pensarmos criticamente, chegaremos à conclusão de que traficantes são apenas comerciantes capitalistas que querem ganhar dinheiro vendendo mercadorias a outras pessoas que desejam comprá-las. Claro que há bandidos violentos, assim como há policiais violentos, jogadores de futebol violentos, jornalistas violentos, políticos violentos etc. E, como falado acima, muito da violência do negócio jaz justamente no fato de ser ilegal.

- Dizem que, se as drogas forem legalizadas, muitas pessoas vão começar a usar essas substâncias. Com isso, o numero de pessoas drogadas vai explodir...
R: Bem, experiências de descriminalização ou legalização parciais em países como Portugal e Países Baixos mostram que isso não aconteceu. Mas, de qualquer forma, esse é um risco que temos que correr. Afinal, a proibição às drogas nunca impediu que seu consumo explodisse no mundo todo. Segundo me consta, o uso das drogas começou a crescer justamente nas décadas de 60, 70 e 80, justamente quando a repressão se tornou mais forte. Logo, se a proibição não inibe o consumo, por que não tentar a legalização?

- A legalização vai aumentar os roubos de rua, já que as pessoas vão consumir mais e precisar de mais dinheiro para comprar a droga?
R: Bom, se eu não acredito que vá haver grande aumento no consumo, não tem por que crer que haverá aumento nos roubos. De qualquer forma, o Rio de Janeiro já tem tanto roubo de rua que não é um drogado a mais que fará diferença. E mais, com a legalização, a polícia não precisará mais investir essa fortuna que hoje investe na repressão ao trafico. Poderá destinar todos esses recursos para reprimir o que realmente aumenta a violência urbana: roubos e homicídios.

- Mas como a gente pode apoiar a legalizacão de uma coisa que faz mal à saúde das pessoas?
R: Bom, se você acredita na liberdade individual das pessoas, então você deve aceitar que cabe exclusivamente ao indivíduo decidir se ele quer usar ou não determinada substância em seu organismo. Não cabe a mim, a você ou ao Estado decidir se fulano quer se drogar ou não. O consumo excessivo de drogas pode afetar a saúde das pessoas assim como o uso excessivo de álcool, de cigarro, de botox, de gordura ou até de comida fast food. O uso excessivo de drogas pode levar à morte assim como um voo de asa delta, um salto de para-quedas, a prática de surfe, as corridas de automobilismo, as lutas esportivas etc. Tudo isso é perigoso e depende exclusivamente da vontade individual de cada pessoa. Nenhuma dessas coisas é proibida pelo Estado, só o consumo de drogas.

- Então como podemos legalizar as drogas?
R: Em primeiro lugar, precisamos estimular o debate crítico da sociedade, em vez de reprimir os setores que pedem o diálogo toda vez em que eles se manifestam em favor da legalização. Em segundo lugar, com o debate maduro, o país deve propor um referendo para conhecer a opinião da população brasileira sobre o assunto. A partir daí, o Brasil deve se retirar do tratado internacional antidrogas das Nacões Unidas, para que possa decidir soberanamente (isto é, sem precisar dar satisfação, como um cordeirinho submisso, aos Estados Unidos ou à Europa) sobre o futuro de sua sociedade. Depois, pode-se mudar a legislação nacional sobre o assunto, para que possa ser adotada uma legalização gradual das drogas, começando pelo fim da repressão ao consumo das substâncias menos perigosas e terminando, em médio prazo, na legalizacão do uso e venda de todas as drogas (isso mesmo TODAS, sem exceção).

- Você só esta defendendo a legalização das drogas porque você é um maconheiro que quer se drogar sem o incômodo da repressão policial...
R: Aí você se engana. Não uso maconha, cocaína ou qualquer droga ilícita. Nem pretendo usá-las depois da legalização. A única vez em que pus um cigarro de maconha na boca foi num coffee shop em Amsterdã, onde isso é legal. Mas devo confessar que dei apenas duas tragadas no cigarro e tossi tanto que nem quis fumar mais. Defendo a legalização apenas para me livrar do grande incômodo da despropositada e letal guerra às drogas que fomos obrigados a importar dos EUA há 40 anos.

- Sou um policial, promotor, juiz, politico. Como posso defender uma coisa ilegal como as drogas?
R: Bem, as drogas só são ilegais, porque elas ainda não foram legalizadas. A discussão aqui é justamente para acabar com a ilegalidade.

- Mas legalizar as drogas seria reconhecer que perdemos a guerra contra o tráfico...
R: Cara, sejamos realistas. Os EUA, que são os EUA e que têm apenas que vigiar a fronteira com o México ao sul (a fronteira com o Canadá, ao norte, não traz grandes problemas, com exceção do tráfico de BC Bud), não conseguem impedir as centenas de toneladas de drogas que chegam ao país todo ano. Por que vocês acreditam que o Brasil, que tem 15 mil km de fronteiras terrestres e é o único pais do mundo que faz fronteira com os três produtores de cocaína, vai conseguir? Sejamos realistas...

- Qual seria o futuro do comércio das drogas depois da legalização?
R: Como qualquer produto legal dentro do sistema capitalista, o comércio seria regulado pelas leis de mercado, sob o controle estatal. Em vez de bandidos armados, empreendimentos legais poderiam vender essas substâncias, como é o caso do álcool, vendido nos milhões de botecos desse Brasilzão. A fabricação seria feita por industrias a serem vistoriadas periodicamente com controle de qualidade a ser aferido pela Anvisa ou pelo Inmetro. A plantação de coca seria fiscalizada pelo Ministério da Agricultura. O produto seria vendido no comércio varejista dentro da embalagem lacrada na fábrica, para impedir a adulteracão. A pureza da droga seria informada na embalagem. Os lucros do comércio chegariam aos cofres publicos por meio de impostos. Parte dos impostos seriam revertidos ao Ministério da Saude, para que ele pudesse investir mais em unidades de recuperação de drogados. A polícia não precisaria mais trocar tiros com favelados. Tampouco se corromperia com arregos de criminosos. Os criminosos ainda usariam suas armas durante algum tempo para praticar crimes nas ruas, mas logo isso seria reduzido, já que eles não teriam mais o dinheiro do tráfico para financiar suas armas e munições. Os governos fariam uma anistia para o crime de tráfico (apenas para esse crime, já que assassinatos, roubos etc teriam que ser julgados) e traria os milhares de vapores, soldados, fogueteiros para o comércio legal, através de programas de emprego específicos. A venda para menores seria proibida como acontece no caso dos cigarros e bebidas alcoolicas.

11.5.10

27.4.10

on the road - uma resenha



leu Jack Kerouac?
beatnikagem montagem da contracultura ternura baseado baseado baseado baseado nas viagens costa a costa a costa a costa a costa dos estadosunidos cogumelo elo do México pré Rock'n'Roll heroína morfina bebop em 69 o sonho Kerouac conhaque piripaque acabou o Livro de 73 um rolo de papel enrolado de letras relidas rasuras ranhuras malucas que descortinam a vista dos dias atrás
leu Jack Kerouac?

25.4.10

1808 - uma resenha






Escrito pelo repórter e editor paranaense Laurentino Gomes após anos de investigação jornalística, 1808 é um tijolo de pouco mais de 400 páginas de uma narrativa fácil.

Na verdade essa investida de jornalistas em escrever livros de História virou moda com o gaúcho Eduardo Bueno, no fim dos anos 1990.

Jornalistas normalmente têm coisas que faltam a muitos historiadores de ofício, como tino comercial e escrita simples, com isso as obras com temas históricos que mais vendem são escritas por eles. Uma lição para os tão academicizados historiadores.

O objeto do livro de Gomes é a transferência da família Real portuguesa para o Brasil, os precedentes, o estabelecimento no Rio de Janeiro, e as primeiras conseqüências.

Apesar de estar organizada de maneira cronológica em 29 capítulos, a obra é composta de diversos micro-casos de portugueses da nobreza ou funcionários públicos que vieram com a Corte a acabaram ficando após a realeza se retirar em 1821. Além de boas histórias pontuais de pesquisadores europeus e também de brasileiros comuns. Traz também as conseqüências do abandono de Portugal pela Coroa. Realmente é um livro muito rico em informações desse tipo. E é esse o diferencial de 1808.

“Como uma Rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a História de Portugal e do Brasil” é o subtítulo da obra de Gomes. Sabe-se que os planos de transferência da Corte para o Brasil são bem mais antigos e tem motivações diversas, entre elas a segurança e a prosperidade do Reino. Porém esses planos ganham caráter de urgência com a iminência da invasão de Portugal por Napoleão Bonaparte.

O império napoleônico se expandia e tomava conta da Europa, com exceção apenas da Inglaterra, que tinha sido bloqueada economicamente pelo estrategista francês. Como Portugal rompeu esse bloqueio e continuou comercializando com a ilha britânica, a retaliação veio a galope.

Mas a Coroa portuguesa tinha uma carta na manga com a qual Napoleão Bonaparte não contava: O Brasil.

Em suas memórias escritas pouco antes da morte, quando foi exilado pela Inglaterra no meio do atlântico, na ilha de Santa Helena, Napoleão Bonaparte afirma que D. João VI foi o único que o enganou.

São valiosas as descrições que Gomes faz de Salvador e do Rio de Janeiro antes da chegada da família real. O que é hoje o Brasil, ele descreve como um amontoado de regiões mais ou menos autônomas, sem comércio ou qualquer outra forma de relacionamento, que tinham como pontos de referência apenas o idioma e a Coroa portuguesa, sediada em Lisboa, do outro lado do Oceano Atlântico.

Ainda em Salvador, na escala que a Corte fez antes de aportar no Rio de Janeiro, D. João VI ordenou a criação da primeira escola de Medicina do Brasil, a primeira companhia de seguros, uma fábrica de vidro e outra de pólvora, a cultura e a moagem do trigo e mandou abrir estradas, dentre outras modernizações. Foi uma guinada econômica numa colônia até então sem nenhuma manufatura comercial.

Essas são obras que não viriam de um monarca medroso e bobo, mas sim de um estadista inteligente e capaz de manter a unidade de um país continental.

O pecado de Laurentino Gomes é se deixar levar pela tentação de caricaturar a realeza. Algo que poderia ser evitado em meio a tanta informação interessante que ele dispõe. D. João VI é transformado em um gordo medroso já na capa do livro. Nelson Rodrigues dizia que o brasileiro acha feio o que vê no espelho. É um narciso às avessas. E Laurentino Gomes reproduz esse comportamento, o que não tira o valor de sua obra, mas num país que valoriza de verdade suas origens, Dom João VI seria mostrado como um estrategista brilhante que fez com que a Casa Real de Portugal se tornasse a única da Europa Ocidental, fora a britânica, a permanecer incólume frente à Napoleão Bonaparte.

O Rio de Janeiro era uma roça que foi transformada, num período de uma década, numa cidade relativamente moderna, com a criação do Banco do Brasil, da Academia de Belas Artes, do Jardim Botânico, da Real Biblioteca, hoje Biblioteca Nacional, entre outras coisas. Dom João VI preparou o terreno que o Rio de Janeiro se tornar a metrópole e berço cultural de hoje.

1808 é uma oportunidade de conhecer a história da formação do Brasil enquanto país, numa publicação bem editada e com rica iconografia. É fácil encontrá-lo em bibliotecas públicas.

Se você tem esse livro e já leu, passe pra frente.

23.4.10

Moby



Sábado passado, 17/04, rolou um show do Moby de graça na Praça do Museu Nacional.
Essas são duas fotos daquela bela noite.
O Na Rota do Rock fez a cobertura.

22.4.10

em Amsterdam


Uma janela qualquer em Amsterdam.
Enquanto isso, no Brasil, a discussão sobre a legalização ainda está no be-a-bá.
Mas planta quem é de plantar, vende quem é de vender e fuma quem é de fumar...
Aí eu pergunto: Pra que discutir uma proibição que nunca funcionou pra ninguém?

21.4.10

RasTafari e Mussolini


“Rei dos Reis. Em 1935 existiu apenas um homem que levantou da obscuridade e elevou seu país de maneira brilhante antes de todos saberem. Mas pela sua astúcia escondida não haveria possibilidade de outra guerra mundial despertando a Liga das Nações para um idealismo a favor da Etiópia. Porém para a Majestade Haile Selassie teria sido um ano diferente. Se por alguma infelicidade a guerra entre Itália e Etiópia se espalhou em uma conflagração mundial, o Poder da Santíssima Trindade, o Rei dos Reis, o Leão de Judá, terá seu lugar na história. Se acabar com a queda de Mussolini e o colapso do fascismo, sua Majestade poderá orgulhar-se de um dos maiores feitos já realizados pelos negros”.

Revista TIME, 1935,
Quando elegeu Haile Selassie o homem do ano.







Escrevi sobre as origens do cristianismo na Etiópia e da própria formação desse país, que tem uma antiga e rica tradição religiosa.
Agora, algumas notas sobre a história recente da Etiópia, a partir do fim do século XIX até a invasão de Mussolini, nos anos 1930, passando pela coroação de Ras Tafari, chamado também Haile Selassie, Rei dos Reis, Leão Conquistador da Tribo de Judá.
É interessante notar que as religiões serviram basicamente para separar as pessoas... Todas elas... Sempre!
Acende e vaisimbora...


O velho testamento fala de uma antiga monarca etíope, a Rainha de Sabá, que visitou o Rei Salomão em Jerusalém. A tradição diz que essa rainha, conhecida pelos etíopes como Rainha Makeda, teve um filho de Salomão. A Rainha de Sabá governou de 980 a 950 a.C. e seu filho se tornou Menelique I da Etiópia.
A monarquia moderna etíope começa com o Imperador Teodoro II, que governou durante parte do século XIX.
Menelique II, que governou de 1889 a 1913 introduziu modernas comunicações para a Etiópia e instituiu o sistema ministerial. Concedeu à França o direito de construir a estrada que liga Addis Ababa, capital da Etiópia, ao Djibouti francês. Morreu em 1913 e foi sucedido pelo seu neto Lij Yasu, que era muçulmano. Sua associação com o islã o distanciou da maioria da população, cristã. Com o apoio de líderes cristãos, Ras (príncipe) Tafari Makonnen de Choa (que mais tarde adotou o nome de trono de Haile Selassie), derrubou Lij Yasu em 1916. A filha de Menelique II, Zauditu (Judite), foi coroada Imperatriz a Tafari se tornou regente e herdeiro do trono.
Lij Tafari Makonnen nasceu em 1892. Seu pai, Ras Makonnen era um primo e conselheiro muito próximo de Menelique II. Tafari foi educado por jesuítas franceses. Quando jovem, aos 14 anos, recebeu de Menelique II o título de Dejazmatch, algo como o Guardião dos Portões. Ele sucedeu o posto de governador de seu pai em Harar em 1910 e no ano seguinte se casou com a bisneta de Menelique II, que morreu em 1962.
Desde 1916, quando se tornou regente, até 1928, Tafari estendeu seu poder, abafando rebeliões e fazendo do exército uma instituição leal a ele. Em 1923 conseguiu a admissão da Etiópia na Liga das Nações e em 1924 emancipou os escravos.
Em 1928, Ras Tafari assumiu o título de Negusa Negast (rei). A Imperatriz Zauditu morreu em 1930 e Tafari foi coroado Imperador em Novembro do mesmo ano, assumindo o título de Haile Selassie (Poder da Santíssima Trindade), Leão Conquistador da Tribo de Judá, Eleito de Deus e Rei dos Reis da Etiópia.
Em 1931 promulgou a primeira constituição etíope, com divisão de poderes. Os primeiros cinco anos de seu governo foram direcionados à centralização política.

Os eventos que culminaram na invasão de 1935 remetem ao século XIX. Uma companhia italiana comprou o porto de Assab no Mar Vermelho etíope de um sultão local em 1870, e o governo italiano adquiriu os interesses da companhia em 1882. Mais tarde, em janeiro de 1885, os italianos se apossaram do porto de Beilul e tomaram o controle do porto de Massawa do Egito em 1885. Forças etíopes e italianas se chocaram em Dogali em 1887.
Pouco antes de Menelique II ser coroado, ele negociou com os italianos o tratado de Ucciali em maio de 1889. Os italianos, que sempre apoiaram Menelique II, ocuparam Asmara como se o monarca etíope tivesse concedido o domínio sobre a política externa etíope aos italianos. O tratado de Ucciali frisava que a Etiópia poderia pedir por conselhos a Itália a esse respeito, mas não concedia direito algum.
O rei Humberto da Itália proclamou, em 1890, por decreto a unificação das possessões italianas no Mar Vermelho, incluindo a Eritréia, região conflituosa e fronteiriça da Etiópia. Receando o que parecia ser uma política expansionista italiana, Menelique II anulou o Tratado de Ucciali em fevereiro de 1893.
Os italianos tomaram Agordat em dezembro de 1893 e Kassula em julho de 1894. Em 1895, forças militares italianas ocuparam o povoado de Aduá, leste de Aksum, no norte etíope. Os italianos ocuparam também Adigrat em março, mas foram forçados a recuar mais tarde em Amba Alagi, em dezembro de 1895 e em Mak´alê em janeiro de 1896.
Talvez a mais importante batalha da história etíope, a batalha de Aduá, aconteceu em março de 1896. O exército etíope, com 70.000 homens sob o comando de Menelique II derrotou uma força italiana de cerca de 17.000 soldados. 12.000 italianos foram mortos e a maioria dos 5.000 restantes foram capturados pelos etíopes. Esse fato foi humilhante para os italianos e resultou no tratado de Addis Ababa, no qual os italianos renunciaram o tratado de Ucciali. Um retrato dessa guerra está reproduzido no encarte do disco Confrontation, de Bob Marley & The Wailers. Não conhece? Procura por Traditional Ethiopian Painting – The Battle of Adowa 1896.
A tensão entre os dois países durou até 1900, quando a Itália tomou o controle de Banadir (depois chamada de Somália italiana).
Em dezembro de 1925 a Inglaterra e a Itália fizeram um acordo que aceitava a esfera de influência italiana na Etiópia. Ras Tafari apelou para a Liga das Nações em 1926 contra a violação dos direitos etíopes. Os dois países europeus declararam que não intencionavam interferir na independência etíope.
Em 1928, Itália e Etiópia assinaram um tratado de 20 anos de amizade. O pacto firmava que nenhum dos dois governos poderia interferir, prejudicar ou ferir a independência do outro. Qualquer disputa ou divergência seria submetida a canais diplomáticos de processos de conciliação.
Mas o tratado não durou tanto. O ditador fascista italiano, Benito Mussolini, tinha para ele que a expansão na África fazia parte dos direitos e do destino do país que governava. Alguns autores consideram que a alteração do olhar de Mussolini para com a África fora para impressionar Hitler. O fato é que na primavera de 1932, Mussolini mandou o Marechal Emílio de Bono para a Eritréia, onde, mais tarde o Marechal diria que era uma missão de inspeção para ver o que deveria ser feito no caso de um ataque a Etiópia. Aparentemente, não houve mais progressos naquele ano.
Em 1934, Mussolini declarou numa referência direta à Etiópia: “É necessário se preparar para a guerra. Não amanhã, mas hoje. Nós estamos nos tornando gradualmente uma nação militar”, e afirmou ainda: “Os objetivos históricos da Itália têm dois nomes, Ásia e África. A Itália é capaz e deve introduzir a África no ciclo do mundo civilizado. Não é questão de conquista territorial... mas de expansão natural que deve ser positiva para a Itália e Abissínia (Etiópia). Ele alertou que a Itália não se precipitaria para não atrapalhar sua expansão política e econômica. É mole?
Para Haile Selassie isso caracterizava um golpe, e o era de fato. O Imperador etíope solicitou de seu embaixador em Roma a reafirmação do tratado de amizade, rompido pela Itália. O resultado foi um pacto firmado em setembro de 1934, que afirmava que a Itália não tinha nenhuma intenção que não fosse amigável acerca do governo etíope.
O pretexto imediato para a invasão de 1935 foi relativamente sem importância no que diz respeito aos inúmeros conflitos ítalo-etíopes. Em dezembro de 1934, em Walwal, na fronteira entre Somália e Etiópia, tropas italianas atacaram tropas etíopes. Suspeitou-se de casus beli, atitude de guerra.
O Premier francês Pierre Laval visitou Mussolini em janeiro de 1935 e cedeu ao ditador fascista a Abissínia. Ele declararia depois que não induziu a guerra e que essa foi feita sob seu protesto.
A Etiópia recorreu à Liga das Nações no mesmo mês. Laval e Anthony Éden, então lorde britânico, removeram o problema de Walwal da agenda do conselho da Liga. O que significava que Itália e Etiópia deveriam entrar em acordo sozinhas. Uma arbitrariedade no sentido de que as forças eram visivelmente desiguais.
A Inglaterra era próxima da Etiópia no que diz respeito à assistência diplomática e não se envolveria na questão. Como a Itália já havia firmado suas forças militares na África, a Inglaterra se posicionou como mediadora, mas com certeza essas forças já estabelecidas tinham o aval inglês e europeu. Eden levou a Mussolini em junho uma proposta etíope de uma faixa do deserto de Ogadin, que foi rejeitada por motivos de insuficiência. Em julho a Bretanha e a França baniram não oficialmente a exportação de armas para o país do oriente africano e alertaram outras nações que se não boicotassem a Etiópia seriam vistos como passíveis de inimizade.
A essa altura do desenrolar dos fatos, o conselho da Liga das Nações se envolveu nas negociações. Inglaterra, França e Itália se encontraram diversas vezes entre julho e agosto e foi inexplicavelmente resolvido em setembro que ninguém teve culpa em Walwal.
A decisão serviu para que a Itália completasse sua mobilização militar na Eritréia e na Somália. A Liga das Nações ofereceu concessões á Etiópia em vão. Mussolini já intencionava descontar a derrota militar que os etíopes aplicaram aos italianos 39 anos antes em Aduá e pretendia também dita termos de paz ao Imperador etíope. “Com a Liga, sem a Liga, contra a Liga, o problema só tem uma solução... vamos ao fronte”.
É fato que a Liga das Nações falhou em seu primeiro teste. A intenção italiana de subjugar a Etiópia era clara. Haile Selassie pediu ajuda repetidas vezes e não foi atendido. . De um desses discursos de Haile Selassie na Liga da Nações (provevelmente em 1935), nasceu a música War, gravada por Bob Marley & The Wailers no disco Positive Vibration.

Em setembro de 1935 Mussolini marcou a data para o início das hostilidades em 3 de outubro.
Em Addis Ababa os conselheiros da nação se reuniram em assembléia no início de outubro no palácio imperial e nas palavras de Haile Selassie pode-se perceber o resultado da reunião: “Não se amedrontem. Eu estarei com vocês na batalha. Não tenham medo da morte. Morrerão por seu país. Marchem para a vitória ou para a morte. Todos devem se armar, levantar e se mover pelo chamado de seu país. O mundo está conosco, Deus está do nosso lado. Marchem pelo Imperador e pelo seu país”.
As tropas militares de Haile Selassie obviamente tentaram conter o fronte italiano, mas suas forças eram insuficientes. O exército etíope tinha cerca de 100.000 homens, mas não era bem equipado em virtude do embargo franco-britânico. A Etiópia dependia da tática de guerrilha.
Novamente a Etiópia recorreu à Liga das Nações e surpreendentemente a Itália foi culpada de ato ilegal de guerra, em assembléia do conselho da Liga, por 50 votos a quatro.
A Liga das Nações reuniu-se então para decidir o que deveria ser feito. Aprovaram-se algumas propostas. Em primeiro lugar, o embargo deveria ser desfeito; em segundo lugar, não seriam mais concedidos créditos estrangeiros à Itália e transações financeiras com esse país seriam canceladas; as importações de produtos italianos seriam praticamente abolidas, à exceção de ouro e prata e as exportações à península itálica seriam diminuídas. Os Estados Unidos, que não eram membros da Liga, continuaram exportando armas à Itália, o que foi de fundamental importância para a consolidação da guerra ítalo-etíope.
A Itália mandou tropas motorizadas, tanques e força aérea para o país do Negus Tafari. O exército etíope era muito mais fraco, mas ofereceu resistência com certa dose de heroísmo. Foi no início da guerra que se aboliu a escravidão no país africano.
Os italianos invadiram o país do norte para o sul e em Abril de 1936, após sete meses de sangrentas batalhas, tomaram Addis Ababa e o Imperador teve que se exilar. Grande parte do país foi dominada por forças italianas, mas a população não deixou de lutar na forma de inúmeras guerrilhas, urbanas ou não, que se consolidaram por todo o país. Os italianos atentaram para a diminuição do poder da Igreja Ortodoxa Etíope e em 1937 mataram centenas de sacerdotes e queimaram templos por todo o país. Movimentos pela libertação nacional passaram a ser mais freqüentes e comunistas de diversas partes do mundo condenaram o imperialismo italiano, inclusive da própria Itália, onde vários protestos contra a guerra passaram a aparecer em Nápoles e na Sicília, por exemplo. Só a união Soviética adotou uma posição firme e bem posicionada sobre a questão, quando afirmou que nem a Liga das Nações nem nenhum país capitalista tinham o direito de interferir na independência etíope.
Nas regiões ocupadas por italianos, adotou-se um sistema colonial e escravista até certo ponto, haja vista que a escravidão era substituída pelo trabalho forçado, como ocorreu na província do Tigre, onde escravos foram mandados diretamente para minas de ouro e para a construção de estradas. A Etiópia seria uma espécie de base militar e estratégica para a guerra que se aproximava, principalmente no que diz respeito a lutas com a Inglaterra pelo controle do Sudão, Egito e a costa do Mar Vermelho. A fome e inúmeras epidemias se alastravam matando etíopes pobres aos milhões.
Haile Selassie retornou ao país em 1941 chegando em maio a Addis Ababa, quando a guerra aparentemente havia terminado. De acordo com o Imperador, cerca de 130.000 italianos foram capturados na ocasião. Em seu discurso após a derrocada italiana, o Negus Tafari condenou e repudiou os italianos pelas atrocidades cometidas.

Assim como a guerra civil espanhola serviu como palco de teste das forças nazistas, a Etiópia foi o primeiro campo de batalha dos fascistas e da Segunda Guerra Mundial.
A Liga das Nações, que não ouviu ou não atendeu aos recorrentes pedidos de ajuda de um país membro, feriu o princípio da segurança coletiva, o que é um fato comum no que diz respeito à forma como é diferenciado o tratamento para com países de elite e países que hoje são tidos como emergentes, ou de terceiro mundo, como é o caso da Etiópia.

E os italianos, que mataram o messias dos cristãos, acabaram por atacar também o messias dos rastafaris...
Sistema da Babilônia!

É difícil achar bibliografia sobre isso em português, mas se você ficar realmente curioso, comenta aí.

Vale a pena também ouvir a música Etiópia, de Edson Gomes. Reggae nacional da mais alta qualidade!

20.4.10

Justiça?


uma figura só pra dar um tempo nas letras, mas amanhã eu vou escrever sobre a história recente da Etiópia.

19.4.10

As origens místicas da Etiópia



Vou postar alguns textos a respeito da Etiópia, país onde foi coroado Haile-Selassie, fazendo nascer na Jamaica o Rastafarianismo... Tem muita história por trás disso.

A Etiópia é um reino africano antiqüíssimo, sendo citada no velho testamento e descrito ainda no século V a.C. pelo historiador grego Heródoto.

Muita gente tem curiosidade acerca da Etiópia, país até hoje envolto a muito mistério. Sabe-se apenas que lá é muito pobre, nada muito além disso.

A Etiópia é o mais antigo reino cristão do mundo. Este país, que já foi conhecido como Abissínia, foi o primeiro a aceitar o velho testamento, como também o novo, muito antes dos outros países do mundo. Em contrapartida, apenas em 1620, acontece a conversão ao catolicismo do Negusa Negast, o soberano etíope. Isto aconteceu quase um século após a chegada da primeira missão jesuíta na Etiópia, que ocorreu em 1557.

Há uma mística natural envolvendo a Etiópia, país de diversas etnias e idiomas, onde convivem católicos, judeus e muçulmanos. É o único país da África que não foi colonizado, à exceção de cerca de meia década (1935/36 - 1941) com a invasão da Itália, liderada por Mussolini, na época da segunda guerra mundial. O país, desde os primórdios, sempre resistiu a invasões, fossem elas militares, políticas ou religiosas.

A Etiópia é fronteiriça ao norte e a oeste com o Sudão; limita-se ao sul com o Quênia, a nordeste com a Eritréia e a Sudeste com a Somália e a Somália Francesa. É um dos países que fazem parte do chifre africano.

A Etiópia tem algumas características que a diferenciam de outros povos africanos. Possui antiga documentação escrita, uma situação geográfica especial e a influência de uma vasta tradição lendária.

Entre algumas das fontes escritas, estão inscrições dos antigos reis de Axum, algumas na língua gueze (ou geês) e outras em grego. Há também inscrições sul-arábicas com referências às intervenções auximitas no litoral do Iêmen e escritos de geógrafos, historiadores e autores clássicos.

A geografia da Etiópia é muito irregular. Existem altos contrafortes montanhosos e planaltos que apresentam 3 mil metros de altitude média. O relevo faz da região uma imensa fortaleza, praticamente inacessível para os inimigos externos, fato esse que contribui para a manutenção de uma relativa autonomia e originalidade da população.

Por volta dos séculos VII – VI a.C., chegaram árabes do sul. A língua e escrita simita chegou à África por via desses povos. A religião e a técnica da cantaria também foram trazidos por esses povos. Os Habaschat, que, por deformação, deram nome ao país (Abissínia), fundaram o reino Axum.

Os etíopes não gostam da designação Abissínia para seu país. Relacionam esta palavra com o árabe Habesch, que significa algo próximo à mistura, embora ela derive da tribo iemenita sabéia que os colonizou. Engraçado é que a Etiópia é hoje um país multicultural onde convivem muçulmanos, católicos e judeus.

O velho testamento (em I Reis 10) fala de uma antiga monarca etíope, a Rainha de Sabá, que visitou o Rei Salomão em Jerusalém. A tradição diz que esta Rainha, conhecida pelos Etíopes como Rainha Makeda, teve um filho de Salomão de Jerusalém. O fato é que a Rainha governou de 980 a 950 a.C., e seu filho se tornou Menelique I da Etiópia, o primeiro Rei Axum.

O mito da descendência salomônica deve ter surgido em torno do século IX. A crença de que a casa real descendia da de Judá deu ao reino uma estabilidade que a estrutura geográfica da região dificultava.

As origens de Axum vêm das tribos árabes do Iêmen, que chegaram ao corno da África pelo Mar Vermelho, na região do estreito de Babelmândebe e se estabeleceram nas encostas das montanhas do Tigre. Esses árabes pré-muçulmanos encontraram na Etiópia negros de língua hamita, com os quais se misturaram intimamente, produzindo grupos negro-semíticos tão originais que são os etíopes, os galas e os somalis modernos. Mas no sudoeste do país existem povos que estavam isolados desses cruzamentos antigos, provavelmente por causa do aspecto físico da região, onde os planaltos de difícil acesso mantiveram esses povos isolados.

A fundação do reino Axum serviu de base para a construção de um império. Na era ptolomaica e romana, muitos comerciantes gregos trouxeram uma diversidade de bens da civilização helenística para Axum. A língua e a escrita grega dominaram nas classes superiores até o século IV d.C., mas desde o século II d.C. cresceu o poder de Axum, especialmente quando os romanos, em virtude da guerra persa, desviaram o comércio da Ásia para o Mar Vermelho. Ou seja, quem controlasse o Mar Vermelho, controlaria o comércio na região. Quando, no século IV conquistaram o reino de Méroe, o império que se constituía passou a abarcar as ricas terras cultiváveis do norte da Etiópia, o Sudão e a Arábia meridional.

Foi nesta fase que o reino de Axum recebeu o cristianismo e muitas outras crenças . Com o aumento da importância de suas rotas África adentro e de seus portos que faziam o comércio de Suez até a China, que mercadores, marinheiros, artesãos, soldados e escravos foram trazendo para toda região do chifre africano, inclusive os altiplanos etíopes, os cultos às divindades egípcias, greco-romanas, persas e bramânicas, a Jeová, a Mitra e a Buda. Trouxeram também um sincretismo de crenças pagãs, com um monoteísmo indefinido, onde as tradições bíblicas ocupavam um importante lugar.

A disseminação nos meios urbanos e nas classes nobres de um sentir monoteísta (com tingimento helenístico) e das estórias do Antigo Testamento, deve ter facilitado o avanço do cristianismo e contribuído para diluir a oposição a nova crença.

Já devia haver alguns cristãos na Etiópia no começo do século IV. Se não os houvesse, não faria sentido a história que Rufino, um monge romano, ouviu de Edésio, em Tiro. Este contou-lhe que partira, jovem, daquela cidade, em companhia do seu irmão mais velho, Frumêncio, com destino à Índia. Quando o navio em que viajavam foi abastecer-se de água numa enseada do Mar Vermelho, viu-se atacado pelos nativos, que a todos mataram, menos os dois rapazes, vendidos como escravos a Rei de Axum. Ali, ganharam a confiança do soberano, que fez de Edésio copeiro. Enquanto Frumêncio, graças a cultura grega, fez-se tesoureiro e encarregado da correspondência. Com a morte do Rei, sua esposa tornou-se regente e pediu aos dois jovens que ajudassem na administração do pais e na educação dos príncipes. Frumêncio começou a procurar cristãos como eles, entre os mercadores estrangeiros que freqüentavam a corte, para juntos, erguerem igrejas e difundirem a fé. Com a maioridade do príncipe herdeiro, os dois irmãos deixaram a Etiópia. Frumêncio voltando a Alexandria, foi consagrado bispo da Etiópia. Diz a tradição, que, ao retornar, ele batizou o rei e a família real.

Ezana, que subiu ao trono em 325, teria sido o primeiro rei cristão de Axum. Se converteu no fim de seu domínio, pois as primeiras inscrições de seu reinado são dedicadas ao deus Marém. Era ele que o legitimava. Abjurá-lo, sem que antes a corte e o povo tivessem sido convertidos a nova fé era um ato político impensável. Por outro lado, uma vez que a fé cristã ganhara prestígio depois que Constantino a fizera a religião do Império Romano, e lógico supor que o soberano axumita, desejoso de garantir sua posição de poder no sul do Mar Vermelho, ameaçada pelos persas e seus aliados árabes, procurasse não se indispor com os romanos, que favoreciam os cristãos. Daí, sua compreensão e tolerância e quem sabe até sua conversão ao cristianismo.

A adoção oficial do cristianismo pelo rei axumita, só se deu na segunda metade do século V, por um outro rei também chamado Ezana. A fé, porém, continuaria restrita à cidade de Axum e aos centros populacionais ao longo das rotas caravaneiras. A conversão ampla do norte da Etiópia dar-se ia somente com a chegada, no fim do século V ou início do VI, de grupos missionários círios – dos quais os mais famosos foram os Aba Meta, os Justos e os Nove Santos.

Os Nove Santos introduziram na Etiópia a liturgia e a música religiosa e traduziram para o gueze os Livros Sagrados. Os Testamentos tomariam forma de gueze, a partir de originais gregos e sírios, em vez de alexandrinos.

Os missionários sírios espalharam-se pelo norte da Etiópia. Onde haviam o templo dedicado aos deuses tradicionais puseram um santuário cristão, adaptando o antigo edifício ou sobre ele construindo um novo. A vida ascética por eles levada teve profundo impacto junto as populações rurais e lhes apressou a conversão.

Quando, no século VII, o islamismo reduziu os cristãos do norte da África a uma escassa minoria, a Etiópia, na África oriental, foi a única nação que lhe resistiu. Enquanto o avanço do islamismo era limitado pelo mundo mediterrâneo, e por fim também pela costa do Mar Vermelho, o cristianismo etíope-copta desenvolveu-se no planalto etíope. Para este desenvolvimento contribuiu a união da dogmática e da liturgia alexandrino-síria-monofista e do monarquismo alexandrino-cópta (igrejas monolíticas sobre a rocha). Esta época primitiva cristã estendeu-se do século IV até o século XIII.

Pode-se fazer uma panorâmica determinação do quadro religioso etíope, onde mais uma vez a geografia é fundamental. Na região das terras altas, central e nordeste, o cristianismo ortodoxo tinha amplitude entre camponeses e governantes imperiais. Na região das terras baixas, como também no leste e centros comerciais de Harar, predominava o islamismo. Na região norte e noroeste, estavam os falashas, pequenos e dispersos grupos judaicos. A tolerância entre estas religiões não é muito comum na História, principalmente sob uma mesma magistratura imperial, mas pode ser entendida quando analisado o comércio na região, que era feito a longa distâncias num relevo irregular.

O Cristianismo que se estabeleceu na Etiópia por volta do século IV, veio na época em que se estabeleciam uniformidades no sentido da liturgia. Ou seja, o rito, propriamente dito, estava sendo delineado nas mais diferentes formas de cristianismo.

Segundo o livro bíblico dos Atos dos Apóstolos, quando os seguidores de Jesus se reuniam em Jerusalém, o que os unia era a fração do pão, o que não os impedia de continuar indo ao templo para rezar, como bons judeus. Aos poucos, porém, cada comunidade cristã foi criando a sua maneira de rezar, gozando de liberdade para exercer seu culto. O cristianismo primitivo era antiinstitucional.

Há evidências de uniformidade entre diferentes cultos já no século IV, seguidores de distintas liturgias, como o rito latino, em Roma e no ocidente, por exemplo. No oriente próximo, também surgiram ritos locais nas mais variadas regiões do leste europeu ou da Ásia menor. Porém, a vertente ritual ortodoxa que chegou na Etiópia foi a egípcia, ou Copta, que não se limitou ao país do chifre da África, mas existia também, obviamente, no Egito e em outras regiões do norte africano.

Quando surgiram os grandes patriarcados (ou dioceses) do oriente, por volta do século VI, como Constantinopla, Alexandria, Antioquia e Jerusalém, seus ritos dominaram as liturgias de menor expressão, fazendo com que algumas das comunidades menores desaparecessem. O rito Copta, da Alexandria, se firmou na Etiópia e nas regiões africanas, embora nos séculos XII e XIII, em conseqüência da importância política de Bizâncio (Constantinopla), o rito bizantino prevaleceu por toda a Igreja oriental, em seus variados patriarcados.

Estudando o surgimento do cristianismo na Etiópia, percebe-se que ele serviu como um elemento unificador num país em que a geografia composta de planaltos dificultava a unicidade, mas por outro lado, manteve uma certa autonomia e originalidade da população.

Mas o aspecto mais interessante é, de fato, a tolerância entre o dogmatismo cristão, judeu e islão defronte às mais variadas formas de sincretismo trazidas por essas pessoas que passavam ou se estabeleciam na Etiópia durante séculos de história.

Para aprofundar o conhecimento sobre a Etiópia e a África, podem ser usadas essas referências:

GIORDANI, Mário Curtis. História da África, 3ª edição, Ed. Vozes, RJ, 1977.
JACOB, Ernst Gerhard. Fundamentos da História de África, Ed. Áster, Lisboa.1966.
KI-ZERBO, Joseph. História da África Negra I, Publ. Europa-América, 1972
SILVA, Alberto da Costa e. A Enxada e a Lança – A África antes da chegada dos portugueses. Ed. Nova Fronteira, EDUSP, SP.
SCHWAB, Peter. Ethiopia & Haile Selassie. Interim History, New York, 1972.

18.4.10

Um parque dois olhares





Duas formas de olhar um parque ecológico.
Uma do jeito que ele é.
E outra do jeito que tratamos ele.

Essa ponte da placa de Mais segurança foi colocada há bem pouco tempo e já está quase desabando, como mostra essa reportagem de um jornal da cidade

Ponte nova de Águas Claras sob ameaça
Ligação entre o lado norte e o sul do parque local, inaugurada em 12 de fevereiro, corre o risco de ser interditada porque o acesso pode ceder devido às chuvas


Mara Puljiz


Mal foi inaugurada e a ponte do Parque de Águas Claras poderá ser interditada pela segunda vez. A obra que demorou três meses para ficar pronta e custou R$ 147 mil aos cofres públicos apresenta rachaduras na base do asfalto que dá acesso a ela e tem provocado medo em quem passa pelo local. Usuários e moradores da região preveem um desmoronamento da construção, uma vez que a terra da encosta praticamente desapareceu. O problema, entretanto, não surpreendeu a Companhia Urbanizadora de Brasília (Novacap). Ao construir a ponte, os responsáveis não fizeram a contenção das encostas do solo. A Novacap admitiu saber dos riscos de que ela poderia não resistir à primeira chuva intensa em razão disso. “O problema maior é o solo, que a gente chama de hidromórfico. Ele é rico em água e não tem estabilidade alguma e, por isso, está desmoronando”, disse o chefe do Departamento de edificações, Daclimar Azevedo de Castro. “A intensidade da chuva pegou a gente de surpresa”, amenizou, em seguida.

De acordo com ele, um estudo de sistematização do solo vem sendo feito no local. “Pretendemos encher a erosão de pedras do tipo rachão (pedra rígida que, quando moída, dá origem à brita). Elas são mais pesadas e difíceis de serem levadas pela chuva. Se isso não for suficiente para conter o problema, a ponte será interditada até passar o período chuvoso”, adiantou. Caso isso aconteça, os cerca de quatro mil pedestres que utilizam o local aos fins de semana terão como única opção, por tempo indeterminado, dar a volta no parque para atravessar da parte sul para a norte e vice-versa.

Por água abaixo
Para o estudante Josimar Pacheco, 22 anos, o serviço foi malfeito. “É o dinheiro da gente indo literalmente por água abaixo. Não tenho coragem de passar por aqui (pela ponte) quando chove. É um risco muito grande”, disse. Esta não é a primeira vez que os usuários têm problema com a ponte do Parque de Águas Claras. Em outubro do ano passado, a passagem de nove metros de comprimento perdeu toda a base de terra que dava sustentação e desmoronou. Na mesma época, a administração regional da cidade anunciou o início das obras e no local foi instalada outra ponte maior, com 25 metros de comprimento. Daclimar Azevedo garantiu que essa nova ponte não tem risco de cair porque a fundação é profunda e o concreto está cravado em terreno rochoso e resistente. O risco seria apenas de descalçar a passagem dos pedestres.

A pressa para entregar os trabalhos à comunidade pode ter contribuído para a situação da passagem. Segundo a administradora do parque, Maria Elba Leite, a terraplanagem foi feita durante o período de chuvas, o que pode ter contribuído para a ruptura do asfalto que dá acesso à ponte. Ela evitou dar detalhes técnicos a respeito do assunto, mas adiantou que será preciso fazer uma nova terraplanagem no local, conforme avaliação de engenheiros que estiveram ontem por lá.

17.4.10

A Sombra do Vento, de Carlos Ruiz Zafón - Uma resenha





Dia desses finalmente li A Sombra do Vento, de Carlos Ruiz Zafon.
O livro que é um prodígio. Quem não leu quer ler. Até por isso fiquei curioso.
Pelos números, é a publicação espanhola de maior sucesso desde Don Quixote de La Mancha, clássico de Miguel de Cervantes lançado em 1605.
Carlos Ruiz Zafon é um escritor espanhol que vive em Los Angeles produzindo roteiros de cinema. Seu livro vendeu cerca de 10 milhões de exemplares desde que foi lançado, em 2001.
O eixo central é meio que um tributo aos escritores desconhecidos, e aí se encontra a originalidade e talvez o segredo do sucesso da obra.
Em Barcelona, meados do século XX, numa época em que a cultura da superficialidade ainda não estava tão entranhada na sociedade, Daniel Sempere, protagonista da história, era um menino quando leu um livro misterioso chamado A Sombra do Vento, escrito por um tal Julián Carax.
O menino fica fascinado pela história e resolve pesquisar a vida do escritor. O interessante é que Carax é um fracasso de vendas, mas as poucas pessoas que entraram em contato com sua obra foram envolvidas por ela.
Há muitos autores de talento sem espaço nas livrarias por não disporem das estratégias de mercado de grandes editoras, e essa idéia é trabalhada de maneira interessante por Zafón.
O romance não deixa de ser um sutil protesto contra o mercado editorial.
A busca de Daniel ilustra a magia que os livros podem exercer nos leitores.
É aquele breve momento em que acontece algo que parece não ter muita importância, mas acaba mudando todo o rumo da vida. Quando Daniel Sempere lê a Sombra do Vento, sem que ele saiba sua vida tomou um caminho diferente. Ele era apenas um menino, mas fez uma escolha. E Zafon soube fazer disso uma suave amarra em seu romance.

Com uma clara preocupação com o brilho, até mais do que com a profundidade, Zafon faz o estilo da pontuação abrupta.
A densidade que talvez exista na obra está na mais na sutileza do que na espessura.
Ele tem certa inquietação pela frase cortante, e tenta instaurar uma atmosfera constantemente intensa, o que deixa a obra carregada, mas acaba rendendo boas citações. São arranjos e truques que os escritores se utilizam para prender a atenção de um público sedento por novidades, e acabam se arriscar a cair na trivialidade de obras clichê.

Estamos numa época de cultura global, em que tudo se dissolve e nada fica, onde a mídia corre atrás da verdade instantânea em detrimento da reflexão. E a literatura romanesca, que sempre fertilizou as mentes leitoras com outras possibilidades de interpretação, acabou também sendo atingida por esse advento.

Não diria que A Sombra do Vento não merece o lugar de destaque que ocupa no mercado editorial vendendo tanto. Mas Zafón está anos-luz atrás de um Fitzgerald da vida...

Vale mais pelo retrato da Barcelona franquista.

Eu li um dia desses um livro de um escritor de Brasília chamado Emanuel Medeiros Vieira, que em termos de profundidade reflexiva é muito, mas muito melhor que Zafón.
Logo eu faço uma resenha aqui.

Tem muita coisa boa por aí que só descobre quem vai atrás.

A Sombra do Vento é uma boa leitura para o metrô ou ônibus. Qualquer momento de bobeira é bom para degustar um romance...

16.4.10

Jack Herer 1939 - 2010



Acima, Jack Herer em duas versões



Ontem, dia 15/04/2010, faleceu em Eugene, no Oregon, EUA, o histórico ativista pela legalização da maconha Jack Herer.
Ele nasceu no seio de uma família judia de classe média um pouco depois que a maconha foi proibida naquele que nos USA.
Perdeu o pai de 41 anos aos 14. Alistou-se no exército aos 17, tornando-se MP (polícia!!!) no pós-guerra da Coréia.
No meio dos anos 1960, já fora da vida militar, Jack levava uma vida típica de classe média, com três filhos e uma casa em San Fernando Valley, Califórnia. Era então um republicano tradicional, orgulhoso de ser norte-americano

- "Acreditava que a América era o bem, local onde existiam as pessoas mais decentes do planeta" -

e apoiador de Barry Goldwater (um dos maiores defensores do combate ao comunismo no mundo), cinco vezes senador do Arizona e major general da Força Aérea. Jack chegou a apoiar a intervenção militar (leia-se guerra) no Vietnã.
Nessa época, Jack Herer sentia antipatia pela maconha e a contra-cultura. Tinha saído do mesmo molde que formou grande parte da classe média branca americana.
Ele se divorciou em 1967 e, já beirando a terceira década de vida, uma namorada lha ofereceu a erva maldita.

Então pegou, tragou, prensou e soltou...

Sua primeira reação foi: Por que é que isto é ilegal???????

A partir daí as palavras soadas das bocas contraculturais passaram a fazer outro sentido.
Já na década de 1970 publicou o livro G.R.A.S.S. - Great Revolutionay Amerian Standard System. A obra vendeu 35.000 cópias na cena underground da Califórnia.
Nessa época a disposição de informação era muito limitada e o próprio Jack sentia que sabia muito pouco sobre a canabis e seus usos.
Em 1974 ele teve uma visão reveladora: O cânhamo poderia salvar o mundo. Tudo o que é feito de petróleo e árvores poderia ser feito com cânhamo. Combustível para carros, fábricas e centrais elétricas poderia ser retirado da biomassa da planta. O papel seria tão bom que não amarelaria com o tempo.O cânhamo poderia ser utilizado também para produção de tecido com uma fração muito menor de químicos nocivos do que originados no processamento de madeira e algodão.
Jack Herer de repente visualizou o mundo salvo da poluição, das chuvas ácidas, aquecimento global, desmatamento...
E todo mundo tirou ele de louco!
Em 1979 abriu, com seu parceiro Captain Ed a primeira loja de cânhamo, para venda de tecidos e artefatos.
No início dos anos 1980, já na era Reagan (que dizia que maconha causava danos cerebrais irreversíveis em rodas de whisky) a repressão se intensificou e Jack Herer foi detido sob acusação de sabotagem em tempo de guerra. Ele estava discursando sobre o cânhamo. Recusou-se a pagar uma multa de cinco dólares e foi a julgamento.
Em 14 de julho de 1983 Jack Herer apresenta-se para cumprir pena em prisão federal ao lado de ladrões de bancos e outros anjinhos.
Em 1985 lança The Emperor Wers No Clothes - The Authoritative Historical Record of The Cannabis Plant, Hemp Prohibition, and How Marijuana Can Still Save The World.
O livro foi traduzido em Portugal como o Rei Vai Nu e pode ser comprado no Brasil aqui.
Esse livro é um clássico e é elementar para a compreensão do paradigma canábico.
Nos anos 1990 foi homenageado pelo banco de sementes holandês Sensi Seeds com uma variedade genética que levou seu nome e que é receitada por médicos na Holanda.
Em 15 de julho de 2000 Jack Herer sofreu um ataque cardíaco acompanhado de trombose e ficou impossibilitado de falar e de mover o lado direito de seu corpo. Ele se recuperou e em 2004 revelou que o seu tratamento era através do cogumelo Amanita Muscaria, aquele vermelho de bolinhas brancas, em pequenas doses ao longo do dia, tomado juntamente com maconha. Segundo ele essa assossiação ajudou a recuperar sua capacidade de falar.

Em 2009 foi acometido por outro ataque cardíaco que o deixou em coma induzido por alguns dias. Depois disso, consciente, ainda lutou por sete meses uma batalha que terminou na fatídica manhã de 15 de Abril de 2010.

Jack Herer foi a prova viva de que idéias podem mudar. A informação não pode deixar de circular. Não adianta nada um livro parado na estante. Não adianta nada uma mente cheia de informações e boas idéias se for só por vaidade. É melhor morrer na ignorância do que saber algumas verdades ocultas e guardá-las para si.

A morte de Jack Herer é uma perda, mas agora cabe a quem fica não deixar que a brasa acesa por ele se apague.

Rest in peace Jack!
1939 - 2010

Still smokin'

15.4.10

Marcha da Maconha 2010



Essa é a filipeta nacional da Marcha 2010

Como dizia Raul Seixas:

Coragem
Coragem
Se o que você quer
É aquilo que pensa e faz
Coragem
Eu sei que você pode mais

12.4.10

Coffeeshop Littlle - Amsterdam



Essa foto aí eu tirei num Coffeeshop pequenininho, porém muito aconchegante, em Amsterdam.
Ele fica no Vijzelgracht nº 47. Tem uma escadinha que você desce. Lá na Holanda qualquer endereço termina com gracht (canal), straat (rua) ou plein (praça). Tem outros também, para estrada ou ruela. Mas numa cidade como Amsterdam, sabendo disso você já sabe mais ou menos o que procurar quando tem um endereço nas mãos.
Esse coffeeshop é bem tranquilo. Se você for pra Amsterdam com sua mãe ou sua vó, pode levá-la lá. É daqueles que você pode levar um livro para degustar. Música baixinha, poucas mesas e pouca gente também. Lá são vendidos vários modelos de bongs, pipes, sedas e acessórios em geral.
A matéria-prima está sempre fresquinha. Esse é o cardápio, um pedaço de Space Cake, que aliás é uma delícia, e um punhado de Strawberry Haze.

9.4.10

Shopping Iguatemi revela-se inimigo de ciclistas e pedestres

Matéria sobre o novo centro comercial de Brasilia.
Se nossa mídia impressa (leia-se correio braziliense e afins) fosse desse nível, talvez eu até comprasse jornal...


Centro comercial recém-inaugurado revela-se inimigo de ciclistas e pedestres

Texto e fotos: Uirá Lourenço
7/4/2010

No dia 31 de março, pedalei pela via do Lago Norte (Estrada Parque Península Norte, DF-009) até o Iguatemi, inaugurado no dia anterior. Apesar da distância curta (cerca de quatro quilômetros de onde eu estava), o trajeto não foi dos mais fáceis e não recomendo a ciclistas sem experiência no trânsito selvagem do dia a dia.
Saí do final da Asa Norte (próximo aos supermercados Extra e Carrefour), peguei parte do Eixão Norte, ponte do Bragueto e, então, a via de acesso ao Lago Norte. Em nenhum momento, pude desfrutar de qualquer facilidade ao ciclista (ciclofaixa, ciclovia nem calçada compartilhada).
Na chegada ao shopping, a primeira surpresa: o acesso de pedestre não está pronto. Contornei o terreno e avistei o estacionamento. A placa próxima à entrada sinalizava para carros (valet) e motos.

Leia o post completo aqui

2.4.10

Uso indiscriminado da área pública



Todo estacionamento deveria ser pago.
Estilo rotativo.
Por exemplo: Até meia hora, não paga. De 1 a 5 horas, R$ 5,00. De 5 a 24 horas, algo como R$ 10,00 ou R$ 15,00.
O que não pode é a área pública ser usada para parar propriedades particulares indiscriminadamente em detrimento da livre circulação.
Essa propaganda de pizza aí está estacionada há pelo menos um mês.
É claro que tem de haver uma contrapartida, como melhoria sistemática do transporte público e incentivo real ao uso de bicicletas. Mas é muito digno cobrar pela utilização da área pública.

1.4.10

Paraciclo Biblioteca Nacional de Brasília


O defeito desse paraciclo é ficar longe da vigilância do pessoal que faz a segurança da Biblioteca Nacional de Brasília, mas o modelo é padrão.
Outros lugares públicos ou privados em que há grande fluxo de pessoas deveriam instalar estacionamentos de bicicleta para dar conforto a quem pedala.
Uma bicicleta é UM CARRO A MENOS na rua.
Se você tem interesse em instalar um paraciclo, entre aqui na Transporte Ativo

30.3.10

Fim de tarde




Duas realidades
do mesmo fim de tarde
uma no (belo) caminho
a outra na estação central

Agumas cenas do trânsito de Brasília






A cidade "moderna"!
Carros na calçada e pessoas na rua.
Taxista no acostamento. Alguém anotou a placa???
Um palio cinza na ciclovia. Ou seria autovia e eu que estou falando demais?