17.4.10

A Sombra do Vento, de Carlos Ruiz Zafón - Uma resenha





Dia desses finalmente li A Sombra do Vento, de Carlos Ruiz Zafon.
O livro que é um prodígio. Quem não leu quer ler. Até por isso fiquei curioso.
Pelos números, é a publicação espanhola de maior sucesso desde Don Quixote de La Mancha, clássico de Miguel de Cervantes lançado em 1605.
Carlos Ruiz Zafon é um escritor espanhol que vive em Los Angeles produzindo roteiros de cinema. Seu livro vendeu cerca de 10 milhões de exemplares desde que foi lançado, em 2001.
O eixo central é meio que um tributo aos escritores desconhecidos, e aí se encontra a originalidade e talvez o segredo do sucesso da obra.
Em Barcelona, meados do século XX, numa época em que a cultura da superficialidade ainda não estava tão entranhada na sociedade, Daniel Sempere, protagonista da história, era um menino quando leu um livro misterioso chamado A Sombra do Vento, escrito por um tal Julián Carax.
O menino fica fascinado pela história e resolve pesquisar a vida do escritor. O interessante é que Carax é um fracasso de vendas, mas as poucas pessoas que entraram em contato com sua obra foram envolvidas por ela.
Há muitos autores de talento sem espaço nas livrarias por não disporem das estratégias de mercado de grandes editoras, e essa idéia é trabalhada de maneira interessante por Zafón.
O romance não deixa de ser um sutil protesto contra o mercado editorial.
A busca de Daniel ilustra a magia que os livros podem exercer nos leitores.
É aquele breve momento em que acontece algo que parece não ter muita importância, mas acaba mudando todo o rumo da vida. Quando Daniel Sempere lê a Sombra do Vento, sem que ele saiba sua vida tomou um caminho diferente. Ele era apenas um menino, mas fez uma escolha. E Zafon soube fazer disso uma suave amarra em seu romance.

Com uma clara preocupação com o brilho, até mais do que com a profundidade, Zafon faz o estilo da pontuação abrupta.
A densidade que talvez exista na obra está na mais na sutileza do que na espessura.
Ele tem certa inquietação pela frase cortante, e tenta instaurar uma atmosfera constantemente intensa, o que deixa a obra carregada, mas acaba rendendo boas citações. São arranjos e truques que os escritores se utilizam para prender a atenção de um público sedento por novidades, e acabam se arriscar a cair na trivialidade de obras clichê.

Estamos numa época de cultura global, em que tudo se dissolve e nada fica, onde a mídia corre atrás da verdade instantânea em detrimento da reflexão. E a literatura romanesca, que sempre fertilizou as mentes leitoras com outras possibilidades de interpretação, acabou também sendo atingida por esse advento.

Não diria que A Sombra do Vento não merece o lugar de destaque que ocupa no mercado editorial vendendo tanto. Mas Zafón está anos-luz atrás de um Fitzgerald da vida...

Vale mais pelo retrato da Barcelona franquista.

Eu li um dia desses um livro de um escritor de Brasília chamado Emanuel Medeiros Vieira, que em termos de profundidade reflexiva é muito, mas muito melhor que Zafón.
Logo eu faço uma resenha aqui.

Tem muita coisa boa por aí que só descobre quem vai atrás.

A Sombra do Vento é uma boa leitura para o metrô ou ônibus. Qualquer momento de bobeira é bom para degustar um romance...

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