18.8.09

correspondências virtuais com políticos

Seguem colados alguns e-mails que eu troquei com o senador Magno Malta. A leitura deve ser feita de baixo para cima (ou quase isso!)



Estimado Senador,

Obrigado pela sua resposta. É bom saber que o senhor está aberto ao diálogo com a população que representa.

Pois bem, no meu entendimento, o senhor tem o direito de ter qualquer opinião, seja ela religiosa ou de qualquer outra natureza. Mas sua opinião pessoal não pode interferir no seu trabalho parlamentar, que não é só para o senhor, mas para milhões de pessoas diferentes.

Porém o senhor tocou nos pontos fundamentais da quesão das drogas no Brasil.

1. O senhor afirma que já foi usuário. Pode-se inferir aí duas premissas básicas: A primeira é que a proibição não impediu que o senhor tivesse acesso as drogas (ou seja, a proibição não funcionou para o senhor e nem funciona para ninguém) e a segunda é que as drogas não te deixaram debilóide, como muitos costumam argumentar, o que pode-se comprovar pelo seu cargo atual.

2. "Os holandeses não são os principais consumidores das drogas". Isso comprova que o fato de que com algumas drogas legalizadas não existe fila para se usar. Não há uma correria desenfreada pelos narcóticos só porque são legalizados. Só há muitos consumidores estrangeiros porque o que o que eles procuram na Holanda é exatamente o que queriam em seus países: qualidade e segurança. Chega a ser cômico ouvir alguém falar que um país com a qualidade de vida dos países baixos está errado porque as drogas ou a eutanásia são legalizados.

Até a polícia holandesa transmite uma certa tranquilidade quando você vê um policial sorridente pedalando por bairros como o Red Light district. Ele sabe que a lei que cumpre faz sentido e não está embasada em moralismos religiosos.

Normalmente o que guia a opinião dos que são contra a regulamentação de drogas, prostituição, eutanásia, aborto, entre outros, são fundamentalismos religiosos. O mesmo princípio que permite, em alguns países da África e do médio oriente, que as mulheres sejam mutiladas cortando seu clitoris.

Fundamentalismo esse que faz com que alguns se suicidem achando que vão mudar alguma coisa no mundo matando inocentes em transportes aéreos ou terrestres com bombas presas ao corpo em atentados.

O fundamentalismo religioso acaba fazendo isso mesmo Senador: perde-se um pouco do senso do que é certo e errado.

Mas faça assim, continue lutando pela proibição das drogas (essa mesma, que não funciona para ninguém!!!), e vamos manter as velhinhas peladas e humilhadas na porta das cadeias ao visitar seu filho pé rapado que tinha meio quilo de maconha pra vender.

Atenciosamente,

Professor Daniel Mafra.

ps:

Obrigado pelo convite, mas vai ficar para outra oportunidade.



De: Sen. Magno Pereira Malta
Para: dfmafra@yahoo.com.br
Enviadas: Segunda-feira, 25 de Maio de 2009 19:38:06
Assunto: Resposta ao email

Prezado Daniel,
cumprimentando-o cordialmente e em resposta ao seu e-mail venho, em primeiro lugar, esclarecer que sou um Senador eleito como representante do Estado do Espírito Santo, portanto, um Senador brasileiro. Não tenho o poder de legislar em outros países como a Holanda, que V.Sa. cita. A minha alçada é restrita às fronteiras brasileiras. A minha posição contra a maconha e/ou contra qualquer droga alucinógena é rígida e frontalmente contrária a liberalização. Posso falar porque, assim como você, um dia fui usuário e consegui abandonar o vício através da presença constante de Nosso Senhor Jesus em minha vida. Mantenho em funcionamento uma clinica de recuperação em Cachoeiro de Itapemirim que tem dados bons resultados para aqueles que querem se tratar. Convido-o a conhecê-la caso tenha, ao menos, curiosidade em saber como as pessoas podem se livrar das substancias alucinógenas ou visitar o www.projetovemviver.com.br . Todos sabemos bem que na Holanda o uso de drogas, a eutanásia e o casamento entre homossexuais são legais. A maconha e o chá de cogumelos, os magic mushrooms, são vendidos livremente e têm efeito alucinógeno. Pode ser que V.Sa. não saiba que os holandeses não são os principais consumidores e reclamam da fama de maconheiros que lhes é atribuída por conta dos estrangeiros que visitam ou moram na cidade que se tornam um grande problema com seus abusos. Muita gente vai em Amsterdã para “ficar doidão” e acaba passando bem mal. A decisão de legalizar as “drogas leves” foi uma tentativa de diminuir o consumo de “drogas pesadas”, em especial a heroína. O consumo de maconha aumentou bastante, o de heroína caiu muito pouco. Alem do mais com situações culturalmente tão diferentes não se pode pensar em simplesmente copiar uma solução entre países tão diversos. Em Volendam, vale a pena V.Sa. verificar, existe uma associação chamada “Mães Corajosas” que tentam tirar seus filhos do consumo e impedir que os mais novos comecem. Porque mesmo num país onde é legalizado, a maioria dos pais não quer saber de seus filhos consumindo drogas não é mesmo? Ainda que eles mesmos tenham, um dia, feito uso. É inacreditável como se acaba perdendo um pouco do senso do que é certo e errado. Assim são os homens, usuários de drogas, capazes de realmente enlouquecer na busca de uma maneira fantástica de sustentar o próprio vicio.

Que Nosso Senhor Jesus guie seus passos.
Atenciosamente,
Senador Magno Malta

Prezado Senador,
Seu posicionamento sobre a legalizacao da maconha e sobre a atitude do ministro Carlos Minc envergonham o Brasil.
Estou te enviando esse email de Amsterdam, capital da Holanda, uma das maiores qualidades de vida do mundo, para te dizer que aqui nao fica nenhuma velhinha pelada na cadeia porque ninguem vai preso por causa da maconha. Ela nao mata. Alias, vossa senhoria deveria passar uns dias aqui para ver o que e uma cidade boa... muito melhor que Curitiba.
O Brasil so esta na situacao de atraso em que se encontra por causa de pessoas de mentalidade como a sua.

Atenciosamente,
Daniel Mafra.

ps: faltam os acentos por causa do teclado europeu.


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